HUMOR E IRONIA NO TRIBUNAL: ANÁLISE DA CENA DO JULGAMENTO NA ADAPTAÇÃO CINEMATOGRÁFICA DE O AUTO DA COMPADECIDA
Résumé
Este artigo aborda a adaptação cinematográfica O Auto da Compadecida por Guel Arraes, com um enfoque especial na cena do julgamento, destacando a maneira como o filme transcende a simples fidelidade ao texto original de Ariano Suassuna. Por meio de uma análise que se apoia na tradução intersemiótica, o estudo se vale das contribuições teóricas de Julio Plaza (2003), Anne Ubersfeld (2005), Renato Cohen (2013) e Marlene Fortuna (2010) para investigar as camadas de significado adicionadas à narrativa através dos recursos exclusivos do cinema. O humor e a ironia dramática, conforme discutido por, destacados por Yves Lavandier (2013) e Marta Mateo (2010), são analisados para demonstrar como a adaptação utiliza esses elementos para aprofundar a crítica social inerente à obra de Suassuna, explorando a ignorância dos personagens de forma crítica e reflexiva. Além disso, o artigo introduz uma análise jurídica, referenciando os estudos de Melo (2016) e Zaffaroni et al (2015), para estabelecer um diálogo entre a narrativa fílmica e conceitos legais, enriquecendo assim a compreensão da obra sob uma luz sociojurídica. Argumenta-se que a abordagem de Arraes não se limita a replicar o texto de Suassuna, mas expande-o, utilizando a linguagem cinematográfica para adicionar novas dimensões de significado e ressonância emocional. Este estudo ilumina não apenas as especificidades da adaptação em questão, mas também fornece insights valiosos sobre as práticas de adaptação mais amplamente, enfatizando a importância da criatividade e da interpretação na transposição de obras literárias para o cinema.
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