CONTE LÁ QUE EU CANTO CÁ: A FORÇA DE UMA MEMÓRIA COLETIVA QUE RESSIGNIFICA A POIESIS DA CANTORIA DE VIOLA

Resumen

Este trabalho decorre de tese de doutoramento, já concluída, e classifica-se como de natureza qualiquantitativa e, com abordagem de Estudo de Caso, objetiva investigar a importância da memória coletiva, de acordo com o modelo Maurice Halbwachs, enquanto experiência cotidiana na produção poética dos repentistas na cantoria de viola, a partir da gravação de dois eventos de cantoria de viola, na modalidade pé-de-parede, ocorridos em 2018 e 2019. Os dados analisados apontaram que na poiesis da arte do improviso de viola a estratégia de rememoração e/ou revisitação sistemática do passado – através de causos, historietas e versos de cantadores, vivos e falecidos – impõe-se como uma necessidade que transcende a reafirmação e/ou ‘culto’ a repentistas considerados ícones e/ou mitos da arte do repente. Vislumbra-se, através desse recurso, a necessidade de ressignificação constante da tradição oral, por meio da oxigenação de uma memória, para além de individual, muito mais social e coletiva, construída através dos fragmentos e ‘cacos’ de lembranças e revigorada no presente. Enquanto parte importante das poéticas do oral, a arte do repente, através do exercício dessa memoria, ao tempo em que dá luz ao passado, ‘transforma-o’ e o livra do estereótipo sectário e anacrônico que, infelizmente, ainda sustenta o preconceito contra as culturas populares, consideradas pelo cânone como de borda.       

Biografía del autor/a

Marcelo Vieira Nóbrega, Universidade Estadual da Paraíba

Doutor em Linguística (UFPB -  2020). Professor efetivo do Departamento de Letras da Universidade Estadual da Paraíba – Campina Grande (PB). 

Citas

ACHILLES, D.; GONDAR, J. A Memória sob a Perspectiva da Experiência. In: Revista Morpheus: es-tudos interdisciplinares em memória social. Rio de Janeiro, v. 9, n. 16, ago./dez. 2016. p. 177.
AYALA, M.I.N. No Arranco do Grito: aspectos da cantoria nordestina. São Paulo (SP): Ática, 1988.
BENJAMIN, W. Magia e Técnica. Arte e política. Ensaio sobre literatura e história da cultura. Obras Escolhidas. (Vol. I). Tradução de Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1987.
____________ . Rua de Mão Única. (Vol. II) Tradução de Rubens Rodrigues Torres filho e José Carlos Martins Barbosa. São Paulo: Brasiliense, 1987.
BOSI, A. Literatura e Resistência. São Paulo (SP): Companhia das Letras, 2002.
_______. Cultura Brasileira: temas e situações. 2. ed. São Paulo (SP): Ática, 1992.
BOSI, E. O tempo vivo da memória: ensaios de psicologia social. São Paulo (SP): Ateliê Editorial, 2003
CUNHA, E. Os Sertões. Campanha de Canudos. Texto integral. 6ª reimpressão. São Paulo: Martin Claret, 2013.
HALBWACHS, M. A Memória Coletiva. Tradução de Laurent León Schaffter. Edições Vértice. São Paulo (SP): Editora da Revista dos Tribunais, 1990.
LE GOFF, J. História e Memória. Tradução de Bernardo Leitão et. al. Campinas (SP): Editora da Uni-camp, 1996.
NÓBREGA, M. V. A Cantoria de Viola na Contemporaneidade: seus poetas em performance e me-mórias; estratégias para formação poética de apologistas e repentistas. Tese. 289 f. (Doutorado em Linguística) – Proling – Programa de Pós-Graduação em Linguística. UFPB - Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa (PB), 2020.
RICOEUR, P. Rumo a Uma Hermenêutica da Consciência Histórica. In: Tempo e Narrativa da obra Tempo e Narrativa – Tomo III. Tradução de Roberto Leal Ferreira. Campinas (SP): Papirus, 1997.
RIES, J. La esperienza religiosa. In: MONTI, C., org. Il libro del Meeting 88: cercatori di infinito, costruttori di storia. Roma, Meeting Per L'Amicizia Fra I Popoli, 1988. p. 156-159. (Tradução livre).
SEGALEN, M. Ritos e rituais contemporâneos. Tradução de Maria de Lourdes Meneses. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2002
Publicado
2021-01-21