CONTE LÁ QUE EU CANTO CÁ: A FORÇA DE UMA MEMÓRIA COLETIVA QUE RESSIGNIFICA A POIESIS DA CANTORIA DE VIOLA
Abstract
Este trabalho decorre de tese de doutoramento, já concluída, e classifica-se como de natureza qualiquantitativa e, com abordagem de Estudo de Caso, objetiva investigar a importância da memória coletiva, de acordo com o modelo Maurice Halbwachs, enquanto experiência cotidiana na produção poética dos repentistas na cantoria de viola, a partir da gravação de dois eventos de cantoria de viola, na modalidade pé-de-parede, ocorridos em 2018 e 2019. Os dados analisados apontaram que na poiesis da arte do improviso de viola a estratégia de rememoração e/ou revisitação sistemática do passado – através de causos, historietas e versos de cantadores, vivos e falecidos – impõe-se como uma necessidade que transcende a reafirmação e/ou ‘culto’ a repentistas considerados ícones e/ou mitos da arte do repente. Vislumbra-se, através desse recurso, a necessidade de ressignificação constante da tradição oral, por meio da oxigenação de uma memória, para além de individual, muito mais social e coletiva, construída através dos fragmentos e ‘cacos’ de lembranças e revigorada no presente. Enquanto parte importante das poéticas do oral, a arte do repente, através do exercício dessa memoria, ao tempo em que dá luz ao passado, ‘transforma-o’ e o livra do estereótipo sectário e anacrônico que, infelizmente, ainda sustenta o preconceito contra as culturas populares, consideradas pelo cânone como de borda.
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