“QUERO ESTAR ONDE EU CAIBA”: AS INTERFACES ENTRE A GORDOFOBIA E A MEDICALIZAÇÃO DOS CORPOS
Resumen
Esta pesquisa se localiza nos estudos transdisciplinares das corporalidades gordas e objetiva analisar as interfaces entre a medicalização de corpos gordos e as vivências de gordofobia. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, descritiva e exploratória, que ocorreu por meio de entrevistas semiestruturadas em modalidade online; as informações produzidas passaram por análise de conteúdo de Bardin. Participaram da pesquisa 14 pessoas, sendo 11 mulheres e 3 homens. As categorias encontradas foram: “Eu tento ficar invisível, mas não dá”: ela (a gordofobia) está em todo canto, e discutindo-se os contextos nos quais a gordofobia se manifesta; “O corpo gordo: o ‘anormal’”, onde debateu-se sobre como a medicalização se impõe a corpos gordos. Conclui-se que atitudes gordofóbicas geram processos de medicalização, considerando que estas, somadas ao poder biomédico, produzem violências psicológicas reproduzidas como “práticas de saúde”, que sujeitam a pessoa gorda a procedimentos médicos na tentativa de deixar de sofrer tais formas de violências.
Citas
ARAUJO, K. L. D.; PENA, P. G. L.; FREITAS, M. D. C. S. D. Sofrimento e preconceito: trajetórias percorridas por nutricionaistas obesas em busca do emagrecimento. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro , v. 20, n. 9, p. 2787-2796, 2015. DOI: https://doi.org/10.1590/1413-81232015209.07542014.
BALDIN, N.; MUNHOZ, E. M. B. Educação ambiental comunitária: uma experiência com a técnica de pesquisa snowball (bola de neve). Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, Rio Grande do Sul, v. 27, p. 46- 60, 2011. DOI: https://doi.org/10.14295/remea.v27i0.3193.
BAPTISTA, T. J. R. A obesidade e a indústria do emagrecimento. ComCiência, Campinas, n. 145, p. 1-4, 2013.
BARACUHY, R.; PEREIRA, T. A. A biopolítica dos corpos na sociedade de controle. Gragoatá, Niterói, v. 18, n. 34, 2013. DOI: https://doi.org/10.22409/gragoata.v18i34.32974.
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Editora 70, 2016.
CÂMARA, D. M. Obesidade e sobrepeso: corpo gordo x corpo ideal: contribuições da literatura socioantropológica acerca da medicalização do corpo gordo. 2021. 187 f. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) – Instituto de Medicina Social Hésio Cordeiro, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2021.
CANGUILHEM, G. O normal e o patológico. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1990.
CANGUILHEM, G. O normal e o patológico. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009.
CAPONI, S. Biopolítica e medicalização dos anormais. Physis: Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 19, n. 2, p. 529-549, 2009. DOI: https://doi.org/10.1590/S0103-73312009000200016.
FERREIRA, M. S.; CASTIEL, L. D.; CARDOSO, M. H. C. A. A patologização do sedentarismo. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 21, n. 4, p. 836-847, 2012. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-12902012000400004.
FORMIGA, N. S.; SÁ, G. L. D.; BARROS, S. D. M. Às causas da evasão escolar? Um estudo descritivo em jovens brasileiros. Psicologia.pt, [s. l.], p. 1-16, 2011.
FOUCAULT, M. Em defesa da sociedade: curso no Collège de France (1975-1976). Tradução de Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
FOUCAULT, M. História da sexualidade 1: a vontade de saber. Tradução de Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. 11. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2021.
FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1989.
GUATARRI, F.; RONILK, S. Cartografias do desejo. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1996.
ILLICH, I. Medical nemesis: the expropriation of health. New York: Pantheon Books, 1976.
JIMENEZ-JIMENEZ, M. L. et al. Possibilidades em pesquisa gorda: estratégias de (re)existências na produção de saberes fora do eixo. Revista Fermentario, Montevideo, v. 16, n. 1, p. 23-41, 2022. DOI: https://doi.org/10.47965/fermen.16.1.3.
JIMENEZ-JIMENEZ, M. L. Lute como uma gorda: gordofobia, resistências e ativismos. 2020. 237 f. Tese (Doutorado em Estudos de Cultura Contemporânea) – Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea, Faculdade de Comunicação e Artes, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2020.
LEMOS, F. C. S. et al. Medicalização e normalização da sociedade. Revista Polis e Psique, Porto Alegre, v. 10, n. 3, p. 77-97, 2020. DOI: https://doi.org/10.22456/2238-152X.93406.
MARIANO, B. Da patologização do corpo gordo à cirurgia bariátrica: reflexões a partir do debate sobre gordofobia. 2019. 24 f. Trabalho de Conclusão (Residência Integrada Multiprofissional em Saúde) – Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2019.
MÜLLER, A. L.; SILVA, C. R. L. D.; VARGAS, D. M. Percepções de aspectos psicossociais no cuidado em saúde de adolescente com obesidade grave. Revista Psicologia e Saúde, Campo Grande, v. 11, n. 3, p. 125-138, 2019. DOI: https://doi.org/10.20435/pssa.v11i3.596.
NERY, J. O. Gordofobia: discursos e estratégias de empoderamento de mulheres gordas ao preconceito. Anais do XIII Encontro de Iniciação Científica da UNI7, Fortaleza, v. 7, n. 1, p. 21, 2017.
NEVES, A. S.; MENDONÇA, A. L. O. Alterações na identidade social do obeso: do estigma ao fatpride. Demetra: Alimentação, Nutrição & Saúde, Rio de Janeiro, v. 9, n. 3, p. 619-631, 2014. DOI: https://doi.org/10.12957/demetra.2014.9461.
PAIM, M. B.; KOVALESKI, D. F. Análise das diretrizes brasileiras de obesidade: patologização do corpo gordo, abordagem focada na perda de peso e gordofobia. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 29, n. 1, p. 1-12, 2020. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-12902020190227.
RANGEL, N. F. A. O ativismo gordo em campo: política, identidade e construção de significados. 2018. 162 f. Dissertação (Mestrado em Sociologia Política) – Programa de Pós-Graduação em Sociologia política, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2018.
SANT’ANNA, D. B. Gordos, magros e obesos: uma história do peso no Brasil. São Paulo: Estação Liberdade, 2016.
WOLF, N. O mito da beleza: como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2018.
A submissão de originais para este periódico implica na transferência, pelos autores, dos direitos de publicação impressa e digital. Os direitos autorais para os artigos publicados são do autor, com direitos do periódico sobre a primeira publicação. Os autores somente poderão utilizar os mesmos resultados em outras publicações indicando claramente este periódico como o meio da publicação original. Em virtude de sermos um periódico de acesso aberto, permite-se o uso gratuito dos artigos em aplicações educacionais, científicas, não comerciais, desde que citada a fonte (por favor, veja a Licença Creative Commons no rodapé desta página).