“DIÁSPORA SOU(L)”: A CONSTRUÇÃO DE SUBJETIVIDADES DE MULHERES NEGRAS NO CORPO EM MOVIMENTO

Palavras-chave: Dança. Descolonização. Autoetnografia. Epistemologia Feminista Negra.

Resumo

Neste artigo refletimos sobre o papel das artes, em particular a dança, no processo de descolonização das subjetividades negras. Como estudo de caso, analisamos “Diáspora sou(l)”, performance criada por duas antropólogas negras brasileiras e apresentada numa celebração do Kwaanza, feriado afro-estadunidense pan-africanista ocorrida em Baltimore, cidade estadunidense majoritariamente negra. Analisamos “Diaspora sou(l)” como um território de produção de sentidos e pertencimentos que possibilitaram o florescer e a descolonização da criatividade e das emoções. A performance impulsionou laços coletivos com outros negros na diáspora e outros grupos não-brancos, permitindo revisitar histórias de vida. Este artigo se baseia no relato em primeira pessoa de Camila sobre sua trajetória e sua relação com Karine até culminar na criação da performance e em sua exibição pública. As autoras realizam um exercício autoetnográfico a partir do pensamento de outras intelectuais negras. Analisamos a performance como uma expansão das potencialidades de corpos femininos negros em movimento - na viagem internacional e na dança - de rebelar-se contra as opressões interseccionais. Assim, “Diáspora sou(l)” construiu uma narrativa insurgente e crítica, em que duas negras brasileiras numa cidade e numa celebração negras estadunidenses se inspiram na dança afro-brasileira, afro-cubana e no samba, bem como na epistemologia feminista negra para se territorializarem em corpo e emoção na diáspora, expandindo suas subjetividades.

Biografia do Autor

Camila Daniel, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Doutora em Ciências Sociais (PUC-Rio). Professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ. 

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Publicado
2021-01-25