COMISSÕES DE HETEROIDENTIFICAÇÃO – O QUE É “SER NEGRO” PARA AS UNIVERSIDADES

Abstract

O artigo analisa o atual funcionamento de dois modelos de comissões de heteroidentificação, a convocação presencial ou a telepresencial e a convocação que consiste na remessa de arquivos eletrônicos (fotos e vídeo). A partir da análise crítica da INSTRUÇÃO NORMATIVA, do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), discorremos sobre as novas oportunidades. Ancorados na pesquisa bibliográfica e documental como metodologia e adotando o método hipotético-dedutivo, serão abordadas publicações produzidas, na vigência  da lei 12.990, de 2014, que trata da reserva de vagas para negros. Abordamos as normativas atualizadas, agora em julho de 2023, que orientam o procedimento das comissões de heteroidentificação. Nesse caminhar, os editais de concurso têm materializado os desencontros do “espírito da lei” e a sua aplicabilidade nos casos concretos. Concluímos, que a falta de uniformidade e a discrepância de metodologias têm prejudicado os que mais necessitam acessar essas políticas públicas.

Author Biography

Ronilson de Souza Luiz, Pontifícia Universidade Católica (PUC/SP)

Docente credenciado no mestrado em ensino e relações étnico-raciais da Universidade Federal do Sul da Bahia, campus Teixeira de Freitas. Pós-doutor em educação (2017), doutor (2008) e mestre (2003) em educação currículo, pela PUC/SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Docente na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.

References

AGUIAR MELO, Ana Lúcia Aguiar ; CUTI MARTINS, Cleber Ori. Reserva de vagas para negras e negros no Serviço Público: uma análise do processo implementado na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Argumentos - Revista do Departamento de Ciências Sociais da Unimontes, [S. l.], v. 20, n. 1, p. 198–221, 2023.


ALMEIDA, Silvio Luiz de. O que é racismo estrutural?. Belo Horizonte : Letramento, 2018.


ALMEIDA, Silvio Luiz de. Necropolítica e neoliberalismo. Caderno CRH, v. 34, p. e021023, 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ccrh/a/3prpY8vSHNZccvB67Gt7m6N/?format=pdf&lang=pt Acesso em: 07 ago. 2023.


BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Tradução Mauro Gama e Cláudia Matinelli Gama. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.


BENTO, Cida. O pacto da branquitude. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.


BONILLA-SILVA, Eduardo. Racismo sem racistas: O racismo da cegueira de cor e a persistência da desigualdade na América. São Paulo: Editora Perspectiva SA, 2020.


BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Tradução de Fernando Tomaz. 4. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.


BRASIL. Lei n.º 12.288, institui o Estatuto da Igualdade Racial, 20 de julho de 2010.


BRASIL. Lei nº 12.990, reserva aos negros 20 por cento das vagas oferecidas nos concursos públicos, 09 de junho de 2014.


BRASIL. Instrução normativa MGI Nº 23, publicada em 28/07/2023.



CASALI, Alípio Márcio Dias; SAUL, Ana Maria Aparecida Avella; CHIZZOTTI, Antonio, et al. Projeto de pesquisa Usos Hibridos no currículo chamada CNPq 07/2022, item A.18 (Breve descrição da proposta). E-Curriculum, p. 01-10, 2022.



CHAUI, Marilena. Brasil, mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2000.


DA SILVA GUIMARÃES , Maykon Paulo. A autodeclaração como forma de identidade – um breve debate sobre a banca de heteroidentificação: os problemas para a identificação dos negros nas políticas de ações afirmativas no Brasil. Horizontes Históricos, [S. l.], v. 6, n. 1, p. 398–415, 2023.


DIAS, Gleidson Renato Martins; JUNIOR, Paulo Roberto Faber Tavares. Heteroidentificação e cotas raciais: dúvidas, metodologias e procedimentos. Rio Grande do Sul: IFRS, 2018.


DOMINGUES, Petrônio. Movimento Negro Brasileiro: Alguns apontamentos históricos. Tempo, Rio de Janeiro, v.12, n. 23, ano 7, p.100-122, 2007. Disponível em: https://www.scielo.br/j/tem/a/yCLBRQ5s6VTN6ngRXQy4Hqn/?format=pdf&lang=pt Acesso em: 07 ago. 2023.


FERREIRA, Maria Aparecida Chagas; SILVA, Tatiana Dias; COSTA, Marcelo Marchesini da. O que influencia a adoção de cotas em programas de pós-graduação?. Educação e Sociologia, Campinas, v. 43, 2022. Disponível em: https://www.scielo.br/j/es/a/r4KSHm9r4P9fMg5KD7xbxVH/?format=pdf&lang=pt Acesso em: 07 ago. 2023.


FONSECA, Dagoberto José. As comissões de heteroidentificação, as cotas e as identidades coringas dos pardos. Revista Comciência. Dossiê 234. Abr. 2022. Disponível em https://www.comciencia.br/as-comissoes-de-heteroidentificacao-as-cotas-e-as-identidades-coringas-dos-pardos/


FRANCISCHETTO, Gilsilene Passon Picoretti; MACHADO, Amanda Misael. Cotas Raciais e Heteroidentificação: Análise dos Parâmetros Utilizados para a validação da autodeclaração. Quaestio Iuris, vol. 14, n. 04, p. 2131-2156, Rio de Janeiro, 2021.



FRANCISCO, Eva Cristina; SCOPARO, Tânia Regina Montanha Toledo. Semiótica, ensino e consciência negra: uma análise fílmica. Revista Contemporânea de Educação, v.15, n.34, set./dez.,2020. https://doi.org/10.20500/rce.v15i34.35908


FREITAS, Évellyn Thaís Peixoto de. “O filho que ninguém quer?”: o processo da implementação da comissão de heteroidentificação na UFMT no contexto das relações étnico- raciais brasileiras. 2021. 182f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2021


FONTOURA, Maria Conceição Lopes. Tirando a Vovó e o Vovô do armário. In: DIAS, Gleidson Renato Martins; TAVARES JÚNIOR, Paulo Roberto Faber (org.). Heteroidentificação e cotas raciais: dúvidas, metodologias e procedimentos. Canoas: IFRS, 2018. E-book. Disponível em: https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/1109/o/Heteroidentificacao_livro_ed1-2018.pdf. Acesso em: 5 jan. 2023.


FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. Tradução de Laura Fraga de Almeida Sampaio. 7. ed. São Paulo: Loyola, 2001.


FRY, Peter. A persistência da raça. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.


GOMES, Joaquim Barbosa. A recepção do instituto da ação afirmativa pelo Direito Constitucional brasileiro. Revista de Informação Legislativa, Brasília, p. 129 -152, ano 38, n. 151, jul./set. 2001. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/705/r151-08.pdf Acesso em 04 ago. 2023.

GOMES, Nilma Lino. Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações raciais no Brasil: uma breve discussão. In: BRASIL; Ministério da Educação (Org.). Educação anti-racista: caminhos abertos pela lei Federal nº 10.639/03. Brasília: SECAD, 2005.


GONZÁLEZ, Lélia. Racismo e sexismo na cultura brasileira. In: Revista Ciências Sociais Hoje, Anpocs, n. 1, 1984, p. 223-244. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4584956/mod_resource/content/1/06%20-%20GONZALES%2C%20L%C3%A9lia%20-%20Racismo_e_Sexismo_na_Cultura_Brasileira%20%281%29.pdf Acesso em: 07 ago. 2023.


HALL, Stuart. Da diáspora: Identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.


HOOKS, Bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da Liberdade. Trad. Marcelo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2013.


IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. As políticas de ações afirmativas e as fraudes: uma reflexão sobre as iniciativas do Estado e sua eficácia inclusiva. Brasília: IPEA, 2019.


JESUS, Rodrigo Ednilson de. Quem quer (pode) ser negro no Brasil: o procedimento de heteroidentificação racial na UFMG e os impactos nos modos de pensar identidade e identificação racial no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2021.


KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2020.


KOGA, Natália Massaco; PALOTTI, Pedro Lucas de Moura; MELLO, Janine. Políticas públicas e usos de evidências no Brasil: conceitos, métodos, contextos e práticas. Brasília: IPEA, 2022.


MBEMBE, Achille. Necropolítica, biopoder, soberania, estado de exceção, política da morte. São Paulo: n-1 edições, 2020.


MEIRELLES, Cristiane Lourenço Teixeira. Aspectos políticos e institucionais da implementação da Lei n.º 12.711/2012 na Universidade Federal Fluminense: um estudo avaliativo. 324f. Tese (Doutorado em Política Social) – Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2023.


MELLO, Luiz. Novos horizontes interpretativos da Lei no 12.990/2014 e políticas de reparação: ações afirmativas para negros (as) e carreira docente em Universidades Federais. Brasília: IPEA, 2021.


MIRANDA, Ana Paula; SOUZA, Rolf; ALMEIDA, Rosiane. “Eu escrevo o quê, professor(a)?”: notas sobre os sentidos da classificação racial (auto e hetero) em políticas de ações afirmativas. Revista de Antropologia, v. 63, n. 3., 2020.


MOREIRA, Adilson José. Pensando como um negro: ensaio de hermenêutica jurídica. São Paulo: Editora Contracorrente, 2019.


MOREIRA, Adilson José. Tratado de Direito Antidiscriminatório. São Paulo: Editora Contra Corrente, 2020.


MUNANGA, Kabengele. A difícil tarefa de definir quem é negro no Brasil. Estudos Avançados, vol 18, nº 50, p. 51-66. 2004. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/MnRkNKRH7Vb8HKWTVtNBFDp/?format=pdf&lang=pt Acesso em: 04 ago. 2023.


MUNANGA, Kabenguele. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: Identidade nacional versus Identidade negra. 5. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019.


MUNANGA, Kabenguele. O mundo e a diversidade: questões em debate. Estudos Avançados, v. 36, n. 105, p. 117-130, 2022. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/7dxnhTYxMskypKpS6FcW98L/?format=pdf&lang=pt Acesso em: 04 ago. 2023.


NASCIMENTO, Elisa Larkin (org.). Afrocentricidade: uma abordagem epistemológica inovadora. São Paulo: Selo Negro, 2009.


NUNES, Georgina Helena Lima. Autodeclarações e Comissões: responsabilidade procedimental dos (as) gestores (as) de ações afirmativas. In: DIAS, Gleidson Renato Martins; TAVARES JÚNIOR, Paulo Roberto Faber (org.). Heteroidentificação e cotas raciais: dúvidas, metodologias e procedimentos. Canoas: IFRS, 2018. E-book. Disponível em: https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/1109/o/Heteroidentificacao_livro_ed1-2018.pdf. Acesso em: 5 jan. 2023.


PAMPLONA, Laura Rodrigues Paim; SILVA, Andressa Agnes de Assis; ALMEIDA, Caroline de Souza. Entre a alteridade e a identidade: o acesso às reservas de vagas por meio das comissões de heteroidentificação. Revista Educação e Políticas em Debate, v. 11, n. 1, p. 180-194, 2022.



PEREIRA, Paulo Henrique dos Santos. Sob a pele: o processo de heteroidentificação na graduação da Universidade Federal de Alfenas. 101f. Dissertação (Mestrado em Administração Pública) - Universidade Federal de Alfenas, Varginha, Minas Gerais, 2023.


RIOS, Roger Raupp. Pretos e pardos nas ações afirmativas: desafios e respostas da autodeclaração e da heteroidentificação. In: DIAS, Gleidson Renato Martins; TAVARES JÚNIOR, Paulo Roberto Faber (org.). Heteroidentificação e cotas raciais: dúvidas, metodologias e procedimentos. Canoas: IFRS, 2018. E-book. Disponível em: https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/1109/o/Heteroidentificacao_livro_ed1-2018.pdf. Acesso em: 5 jan. 2023.


SANTANA, Icaro Jorge da Silva; CUNHA, Leandro Reinaldo da; JESUS, Rita de Cássia Dias Pereira de. Cotas étnico-raciais nas Universidades e paradigmas do Direito: uma reflexão sobre a implementação das comissões de heteroidentificação racial. Revista Inter-Ação, Goiânia, v. 47, n. 3, p. 1284–1297, 2023.


SANTOS, Amanda Carolino. O racismo estrutural como manutenção do poder: cotas nos concursos públicos das carreiras jurídicas do Estado do Rio de Janeiro. 113f. Rio de Janeiro. Dissertação de mestrado FGV-RJ, 2022.


SENKEVICS, Adriano; MELLO, Úrsula. O Perfil Discente das Universidades Federais Mudou Pós-Lei de Cotas? Cadernos de Pesquisa, v. 49, n. 172, pp. 184-208, 2019.


SILVA, Ana Claudia; CIRQUEIRA, Diogo; RIOS, Flávia. Ações Afirmativas e Formas de Acesso no Ensino Superior Público: o caso das comissões de heteroidentificação. Novos Estudos CEBRAP, v. 39, n. 2, pp. 329-347, 2020.


SILVA, Tatiana Dias; LOPEZ, Felix Garcia. Cor ou raça do serviço civil ativo do Executivo Federal (1999-2020). Brasília: IPEA, 2021. Publicação preliminar.
Published
2024-10-23
Section
Artigos