FUNDAMENTOS POLÍTICOS, FILOSÓFICOS E ECONÔMICOS SOBRE A JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE NO BRASIL
Abstract
Apesar de o direito à saúde constituir um direito fundamental consagrado constitucionalmente no Brasil, sua efetivação tem enfrentado diversos obstáculos, sobretudo em razão da escassez econômica que esse direito impõe. Nesse contexto, inúmeras demandas são levadas ao Poder Judiciário com o intuito de tornar efetivo o acesso à saúde. Este artigo discute a ausência de parâmetros decisórios objetivos por parte do Judiciário brasileiro, que sirvam de fundamentos políticos e ético-filosóficos capazes de orientar a judicialização da saúde, permitindo a avaliação de grupos prioritários, enfermidades que requeiram cuidado antecipado, a condição econômica do paciente e a viabilidade orçamentária, como critérios para a aceitação ou rejeição dos pedidos. A ausência desses parâmetros conduz à adoção de decisões arbitrárias e subjetivas, muitas vezes desprovidas de racionalidade orçamentária, gerando, assim, déficits significativos no orçamento público destinado à saúde. Isso cria obstáculos à atuação do Sistema Único de Saúde (SUS) na gestão eficiente dos recursos disponíveis e na efetivação de políticas públicas de saúde. O artigo também analisa como a judicialização, no contexto brasileiro, tem contribuído para a redução do princípio da universalidade — característica intrínseca ao direito à saúde —, na medida em que tende a beneficiar uma minoria de indivíduos, a custos orçamentários elevados, em detrimento da maioria da população. Tal cenário configura uma má distribuição de recursos públicos, conduzida pela via judicial, o que pode resultar em uma “inconstitucionalidade por consequência”.
References
BARCELLOS, Ana Paula de, SOUZA, Fábio; MELLO, Humberto Laport de. Direito à saúde e prioridades: introdução a um debate inevitável. Revista Direito GV, v. 13, n. 2, p. 457–483, 2017. Disponível em : https://doi.org/10.1590/2317-6172201718.
BARROSO, Luís Roberto (Org.). A reconstrução democrática do direito público no Brasil. São Paulo: Renovar, 2007.
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 31. ed. São Paulo: Malheiros, 2016.
BRASIL. Constituição Federal. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.
CNJ. Conselho Nacional de Justiça 2022. Justiça em Números. https://paineis.cnj.jus.br/QvAJAXZfc/opendoc.htm?document=qvw_l%2FPainelCNJ.qvw&host=QVS%40neodimio03&anonymous=true&sheet=shResumoDespFT. Custos da judicialização da saúde no Brasil: Análise do Executivo e Judiciário
DA RODA, Arménio Alberto Rodrigues da Roda. Direito à saúde, escassez e ineficácia da administração pública: caminhos para a judicialização administrativa em Moçambique. Revista da Faculdade de Direito de Pelotas . v. 6 n. 1 (2020).
De pessoas na linha da pobreza 2023. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/multidominio/condicoes-de-vida-desigualdade-e-pobreza.html. Acesso em: 22 AGO. 2024
Debate, 39(105), 525–535. https://doi.org/10.1590/0103-110420151050002019
DIEDERICH, Adele; WINKELHAGE, Jeannette; WIRSIK, Norman. Age as a criterion for setting priorities in health care? A survey of the German public view. PLoS ONE, n. 6, ago. 2011.
DINIZ, D., MACHADO, T. R. de C., & Penalva, J. (2014). A judicialização da saúde no Distrito Federal, Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 19(2), 591–598. https://doi.org/10.1590/1413-81232014192.23072012.
FELIPPE, F. T. A Criação dos Juizados Especiais como Modelo Inovador no Acesso à Justiça. Virtuajus, v. 3, n. 4, p. 141-159, 18 ago. 2018.
GARGARELLA, Roberto. La sala de máquinas de la Constitución. Dos siglos deconstitucionalismo em América Latina (1810-2010). Buenos Aires: Katz, 2014.
GOLDBERG, Daniel S.; McGEE, Summer J. Pain as global public health priority. BMC Public Health,v. 11, p. 770-770, 2011.
HECKTHEUER, P. A., CASTRO, R. V. de, & Hecktheuer, F. R. (2018). Os impactos da judicialização da saúde no estado de rondônia no período de 2010 a 2015 e a previsão de gastos para o biênio 2016-2017. Revista Eletrônica Direito e Política, 13(2), 792. https://doi.org/10.14210/rdp.v13n2.p792-823.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa nacional por amostra de
NEVES, Marcelo. Entre subintegração e sobreintegração: a cidadania inexistente. In: DADOS – Revista de Ciências Sociais, vol. 37, n.º 2. Rio de Janeiro: IUPERJ, 1994.
OLIVEIRA, M. dos R. M., Delduque, M. C., Sousa, M. F. de, & Mendonça, A. V. M. (2015).Judicialização da saúde: para onde caminham as produções científicas? Saúde Em
RODRIGO, UPRIMNY YEPES. A judicialização da política na colômbia:casos, potencialidades e riscos, Bogotá, Colombia 2007.
SEN, Amartya. A ideia de justiça. Tradução de Denise Bottmann e Ricardo Doninelli Mendes. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
VENTURA, M., Simas, L., Pepe, V. L. E., & Schramm, F. R. (2010). Judicialização da saúde,acesso à justiça e a efetividade do direito à saíde. Physis: Revista de Saúde Coletiva, 20(1), 77–100. https://doi.org/10.1590/s0103-73312010000100006
WILLIAMS, Alan. Setting priorities in health care: an economist’s view. The journal of Bone and Joint Surgery, v. 73-B, n. 3,
Copyright Notice
The submission of originals to this periodic implies in transference, by the authors, of the printed and digital copyrights/publishing rights. The copyrights for the published papers belong to the author, and the periodical owns the rights on its first publication. The authors will only be able to use the same results in other publications by a clear indication of this periodical as the one of its original publication. Due to our open access policy, it is allowed the free use of papers in the educational, scientific and non-commercial application, since the source is quoted (please, check the Creative Commons License on the footer area of this page).