O PARADIGMA ÉTICO-ESTÉTICO DA OUTRIDADE E A EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS: PRESSUPOSTOS ONTOLÓGICOS E CRÍTICOS DESDE UMA ALTERIDADE RADICAL
Resumo
Este ensaio propõe outras possibilidades de compreensão dos direitos humanos a partir de chaves de leitura que questionam ontologicamente o Sujeito e criticam a maneira pela qual as experiências estiveram, historicamente, subordinadas àquele. Instrumento e teleologia da Educação em Direitos Humanos, preconizada nas Diretrizes Nacionais para Educação em Direitos Humanos (2013) e no Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (2007), a consolidação formal dos Direitos Humanos recorre, muitas vezes, a princípios que minam a potencialidade de contato sensível com as Outras e desconsideram a interpelação que um tal contato produz na abertura às experiências. Na tentativa de desenquadrá-los, tais documentos foram lidos com base nos textos de Walter Benjamin e de Michel Maffesoli, especialmente, relacionados às seguintes dimensões: desmistificação da narrativa do progresso, por meio do retorno ao passado como possibilidade no Agora; deslocamento da cidadania às experiências, excedentes ao conceito de Sujeito de Direitos; e substituição da lógica da solidariedade pela lógica da alteridade, tendo como ponto de referência não mais o Si-Mesma, mas a Outra.
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