O AUTISMO COMO TRANSTORNO E A MEDICALIZAÇÃO DA VIDA

Palavras-chave: Autismo. TEA. Medicalização. Psicanálise. Lacan.

Resumo

No presente artigo problematizamos a definição sintomatológica do autismo, especialmente definido pelo DSM-V como TEA (transtorno do espectro autista), sobretudo pela epistemologia que a classificação propaga em torno da concepção nosológica do mesmo. Discutindo a partir da proposta teórica do autismo como quarta estrutura psíquica (Maleval, 2012), apontamos para os meandros discursivos atuais que fomentam as classificações, sobretudo amparados pelo capitalismo discurso e pela gestão neoliberal do sofrimento psíquico (Dunker, 2021). Autorrelatos de autistas e análise bibliográfica nos auxiliam para demarcar um espaço existencial que o diagnóstico não considera, fundamental para pensarmos os processos inclusivos de combate à exclusão social tão marcada na experiência autista.

Biografia do Autor

Maria Angélica Augusto de Mello Pisetta, Universidade Federal Fluminense (UFF)

Pós-doutorado em Educação (USP). Doutora e mestra em Psicologia (UFRJ). Especialista em Psicologia Clinico–Institucional pela UERJ (modalidade Residência). Graduada em Psicologia. Professora associada na Faculdade de Educação da UFF e no Programa de Pós-graduação em Educação da UFF.

Guilherme Brenner Oliveira Gregório, Universidade Federal Fluminense (UFF)

Graduado em Psicologia (UFF). Pesquisador associado do Grupo de pesquisa Psicanálise, Educação e Inclusão, sediado na FEUFF.

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Publicado
2023-03-15