ELEMENTOS HISTÓRICO-JURÍDICOS DO ACESSO À EDUCAÇÃO NAS COMUNIDADES QUILOMBOLAS: UMA ANÁLISE CRÍTICA

Palavras-chave: Educação Quilombola. Legislação Educacional. Movimento Negro. Materialismo Dialético.

Resumo

O presente artigo se insere na discussão sobre o tema do direito ao acesso à educação escolar às populações negras, com um recorte específico sobre as comunidades remanescentes de quilombolas, tendo em vista o decênio das diretrizes nacionais curriculares para educação escolar quilombola. O desenvolvimento das normas educacionais, em especial nos séculos XIX e XX, evidenciou aspectos ideológicos dos poderes institucionalizados como instrumentos de manutenção de status quo das classes dominantes. Em contraposição a essa imposição, o movimento negro e os coletivos sociais lutaram pela construção e reconhecimento desses direitos. Esse binômio negação-afirmação trouxe uma contradição histórica que se evidenciou na legislação voltada para o direito à educação, construindo um ambiente de tensionamento entre os atores envolvidos em um processo dialético. No momento em que vivemos e diante dos desafios tecnológicos e estruturais que já adentraram os rincões das comunidades tradicionais mais afastadas, é urgente e necessário compreendermos o cenário atual destas lutas por direitos, em especial, o direito à educação.

Biografia do Autor

Leandro Ferreira da Silva , Universidade Federal do Tocantins

Mestrando em Prestação Jurisdicional e Direitos Humanos (UFT/ESMAT); com especialização em educação pela Faculdade Educacional da Lapa e especialização em Gestão e Auditoria na Administração Pública pela Faculdade ITOP. Graduado em Administração (2006) e Direito (2020) pela Universidade Federal do Tocantins. 

Oneide Perius , Universidade Federal do Tocantins

Doutora em Filosofia pela PUCRS (2011). Realizou estágio pós-doutoral pela mesma Instituição (2016, 2019). É professor Associado no curso de Filosofia da UFT (Universidade Federal do Tocantins, Câmpus de Palmas); no Mestrado Profissional em Prestação Jurisdicional e Direitos Humanos (UFT/ESMAT); no Mestrado Profissional de Filosofia da UFT (PROF-FILO/UFT). 

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Publicado
2022-09-06