ELA, EMPREGADA DOMÉSTICA: A LINGUAGEM NO TRABALHO INVISÍVEL

Palavras-chave: Trabalho Invisível. Cenografia. Ethos Discursivo. Empregada Doméstica.

Resumo

O tema deste artigo é a relação que se estabelece entre linguagem e trabalho no ambiente laboral de empregadas domésticas. Este estudo apresenta uma interface entre a temática Ergologia, Linguagem e Trabalho (SCHWARTZ, 2010, 2011, TRINQUET, 2010; NOUROUDINE, 2002) e a teoria enunciativo-discursiva de Maingueneau (2008a, 2008b, 2008c, 2010, 2019) com o objetivo de analisar a cenografia e o ethos construído a partir de relatos de duas empregadas domésticas reunidos na obra Eu, empregada doméstica: a senzala moderna é o quartinho da empregada, de Preta-Rara. Trata-se de pesquisa aplicada, com abordagem qualitativa e objetivo exploratório. Os dados advêm das pesquisas bibliográfica e documental. Chegamos à conclusão de que a materialidade linguística apresenta dois ethos discursivos, a partir do conceito de invisibilidade na atividade de trabalho proposto por Schwartz (2011): a primeira empregada possui uma imagem de si que é visível pelo seu físico, mas invisível pela atividade que executa, resultando em um ethos de empregada disfuncional; enquanto a segunda possui um ethos de empregada doméstica invisível pelo físico, mas visível pela atividade de trabalho que continuou a ser executada a desprezo das suas condições físicas e psicológicas, resultando um ethos de empregada desumanizada.

Biografia do Autor

Neuzer Helena Munhoz Bavaresco, Universidade de Passo Fundo

Doutoranda e Mestres em Letras pela Universidade de Passo Fundo.

Ernani Cesar de Freitas, Universidade de Passo Fundo

Doutor em Letras/Linguística Aplicada (PUCRS), com Pós-Doutorado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem (PUC-SP/LAEL). Professor permanente do Programa de Pós-graduação em Letras, Universidade de Passo Fundo (UPF).

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Publicado
2021-01-25