POR UMA LITERATURA INFANTIL E JUVENIL MAIS AFROCÊNTRICA

Palavras-chave: Representação. Representatividade. Negritude. Literatura infantil e juvenil. Brasil.

Resumo

Este artigo examina os modos representacionais empregados por autores brasileiros na literatura infantil e juvenil (LIJ), explorando uma diversidade de discursos para compreender quão (des)vantajosos são seus efeitos em relação a representações mais elaboradas/humanas dos negros. Empregamos princípios teóricos básicos da Análise do Discurso para discutir a necessidade de representações mais complexas/humanas sobre os afro-brasileiros na LIJ. Metodologicamente, recorremos a uma revisão crítica de referencial teórico e à análise temático-discursiva de obras literárias relevantes publicadas entre os séculos XX e XXI. Os resultados indicam que a mera presença de heroínas/heróis negros na LIJ não garante por si só justiça étnico-racial, tampouco parece contribuir para uma autodeterminação cultural dos afrodescendentes brasileiros. A transculturalidade parece ser indispensável no combate ao colorismo e à idealização da miscigenação. Por último, a negrescência, bem como os princípios pan-africanos e mulheristas da autodenominação, autodefinição e autodeterminação, devem ser parte das bases de uma LIJ brasileira.

Biografia do Autor

Gilberto Alves Araújo, University of the Witwatersrand / Universidade Federal do Pará

Doutorando & Assistente de Ensino na School of Literature, Language and Media, University of the Witwatersrand (Wits), África do Sul, com período sanduíche na University of Mannheim, Alemanha; e Professor Assistente & Pesquisador na Faculdade de Letras, Universidade Federal do Pará (UFPA), Brasil.

Eliene Rodrigues Sousa, Instituto Federal do Tocantins / Universidade Federal do Tocantins

Professora Substituta do Instituto Federal do Tocantins (IFTO), Campus Araguatins, e Doutoranda em Ensino de Literatura pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Tocantins (PPGL/UFT), Brasil.

Referências

AMORIM, Antonio César Drumond. Xixi na cama. Belo Horizonte: Comunicação, 1985.
AUSTIN, John L. How to do things with words. Oxford: Clarendon Press, 1963.
BANCO MUNDIAL, BM. Taxa de cresc. da população (1960-2017). Washington: Banco Mundial, 2017. Disponibilidade em: . Acesso em: 12 out. 2019.
BERESFORD, J. James Bond ‘fans’ react angrily to casting of black female actor as 007. The Irish Post, 15 jul. 2019, s. p.
BILAC, Olavo e NETTO, Coelho. Contos pátrios. Rio: Garnier, 2001a/2001b [1904].
BILAC, Olavo. Poesias infantis. São Paulo: Empório do Livro, 2009 [1904].
BLOCH, Pedro. Dito, o negrinho da flauta. São Paulo: Moderna, 1983.
BLOMMAERT, Jan. Discourse: a Critical introduction. Cambridge: CUP, 2005.
BROOKSHAW, David. Raça e cor na literatura. Rio de Janeiro: Mercado, 2011 [1983].
CAPELÃO, Maria Armanda. Neco, o sonhador. São Paulo: Paulinas, 1987.
COWARD, Rosalind e ELLIS, John. Language and materialism. London: RTLD, 1977.
DALCASTAGNÈ, Regina. A personagem negra na literatura brasileira contemporânea. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2011.
DOMINGUES, Petrônio José. Negros de almas brancas? A ideologia do branqueamento no interior da comunidade negra em São Paulo, 1915-1930. Estud. afro-asiát., Rio de Janeiro , v. 24, n. 3, p. 563-600, 2002.
DUPRÉ, Maria José. A ilha perdida. São Paulo: Ática, 2014 [1944].
FAIRCLOUGH, Norman. Media Discourse. London: Edward Arnold, 1995.
FERREIRA, Ermelinda Maria Araújo. 2005. Osman Lins e a literatura infantil: um diálogo com Monteiro Lobato. Outra travessia, v. 01, n. 04, p. 69-84, 2005.
FILHO, José Rezende e BRASIL, Assis. Tonico e Carniça. São Paulo: Ática, 1982.
FILHO, Rubem. Pretinha de neve e os sete gigantes. São Paulo: Paulinas, 2010.
FOUCAULT, Michel. Power and Knowledge. New York: Harvester & Pantheon, 1980.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Petrópolis: Vozes, 1987.
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Edições Loyola, 2010.
FRANÇA, Luiz Fernando de. Personagens negras na literatura infantil brasileira: da manutenção à desconstrução do estereótipo. 2006. 167 f. Dissertação (Mestrado em Estudos da Linguagem) – Instituto de Linguagens, UFMT, Cuiabá, 2006.
GALDINO, Luiz. Saudade da vila. São Paulo: Moderna, 1984.
GIDDENS, Anthony. The constitution of society. Cambridge: Polity Press, 1984.
GITLIN, Todd. The whole world is watching: Mass Media in the making and unmaking of the New Left. Los Angeles: University of California Press, 1980.
GUIMARÃES, Geni. A cor da ternura. São Paulo: FTD, 1989.
HALL, Stuart (org.). Representation: cultural representations and signifying practices. London: Sage Publications, 1997.
HALLIDAY, Michael e Hasan, Rugaiya. Language, context and text: aspects of language in social semiotic perspective. Oxford: Oxford University Press, 1989.
HANSEN, Anders e MACHIN, David. Media and communication research methods. London: RGP, 2019.
HUDSON-WEEMS, Clenora. Africana Womanism. New York: Bedford, 1993.
HUGHES, Easton. 18 reactions to the new black Ariel. Water Balloon, 05 jul. 2019, s. p.
JACKSON, Bailey W. Black identity development. In: ------. New perspectives on racial identity development integrating emerging frameworks. Organização C. L. Wijeyesinghe e B. W. Jackson. New York: NYU Press, 2012, p. 33-50.
JOSÉ, Ganymedes. A história do galo marquês. São Paulo: Moderna, 1982.
KERENGA, Maulana. Kwanzaa: a celebration. Los Angeles: U. of S. Press, 1998.
LAJOLO, Marisa. Negros e negras em Monteiro Lobato. In: ------. Lendo e escrevendo Lobato. Organização E. M. T. Lopes e M. C. S. Gouvea. BH: Autêntica, 1999, p. 65-82.
LATHEY, Gillian. 2001. The road from Damascus. In: ------. Children’s literature and national identity. Organização M. Meek. London: Trentham Books, 2001, p. 8-19.
LEONARD, John. Lonesome rangers. New York: New Press, 2002.
LOBATO, Monteiro. Urupês. São Paulo: Revista do Brasil, 1919, p. 100-116.
LOBATO, Monteiro. Negrinha. São Paulo: Revista do Brasil, 1920, p. 41-52.
LOBATO, Monteiro. As memórias de Emília. Rio de Janeiro: Editora Globo, 2007.
LOBATO, Monteiro. As caçadas de Pedrinho. São Paulo: Instituto Hans Staden, 2010.
LOBATO, Monteiro. Histórias diversas. Rio de Janeiro: Globinho, 2011.
LOBATO, Monteiro. Geografia de Dona Benta. Rio de Janeiro: Globo, 2013 [1935].
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Rio de Janeiro: Globo, 2014 [1931].
LOBATO, Monteiro. História do mundo para as crianças. Rio: Globinho, 2015 [1933].
LOPES NETO, João Simões. Lendas do sul. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2002 [1913].
MACEDO, Aroldo e FAUSTINO, Oswaldo. Luana, a menina que viu o Brasil neném. São Paulo: FTD, 1999.
MACHADO, Ana Maria. Menina bonita do laço de fita. São Paulo: Ática, 2014 [1986].
MACHADO, Leandro e FRANCO, Luiza. Consciência Negra: o que mudou na vida dos negros 21 anos após música dos Racionais MC's. BBC News Brasil, 20 nov. 2018, s. p.
MACHIN, David e MAYR, Andrea. How to do CDA. London: Sage, 2012.
MALCOLM, X. Message to the grass roots. New York: Grove Press, 1994 [1965].
MARINS, Francisco. Os segredos de Taquara-póca. São Paulo: Melhoramentos. 2000.
McLAREN, Peter. Multiculturalismo crítico. São Paulo: Cortez, 2000.
MITCHELL, Margaret. Gone with the wind. New York: Scribner, 1996 [1936].
MOTT, Odette. E agora? São Paulo: Brasiliense, 1986.
NASCIMENTO, Elisa Larkin (Org.). Afrocentricidade: uma abordagem epistemológica inovadora. São Paulo: Selo Negro Edições, 2009.
NASCIMENTO, Elisa Larkin. O Sortilégio da Cor: Identidade, Raça e Gênero no Brasil. São Paulo: Selo Negro Edições, 2003.
OLIVEIRA, Maria Anória de Jesus. Negros personagens nas narrativas literárias infanto-juvenis brasileiras: 1979-1989”. 2003. 114 f. Dissertação (Mestrado em Educação), Departamento de Educação, UNEB, Salvador, 2003.
OLIVEIRA, Márcia. João que semeava flor e cantava amor. São Paulo: Paulinas, 1988.
PERRAULT, Charles. Cinderella. Pittsburgh: University of Pittsburgh Press, 2015.
PINSKY, Mirna G. Nó na garganta. São Paulo: Atual, 1979.
PINTO, Ziraldo A. 1986. O menino marrom. São Paulo: Melhoramentos, 1986.
ROMERO, Sílvio. História da literatura brasileira. Rio de Janeiro: Olympio, 1960.
ROSEMBERG, Fúlvia. Literatura infantil e ideologia. São Paulo: Global, 1985.
ROSSI, Marina. Mais brasileiros se declaram negros. El País Brasil, 16 nov. 2015, s. p.
STOWE, Harriet B. Uncle Tom’s Cabin. New York: Collins Classics, 2011 [1852].
TERRA, Portal. Inpe: negros passam a ter mais filhos. Portal Terra, 12 mai. 2011, s. p.
VAN DIJK, Teun. Discourse analysis as ideology analysis. In: ------. Language and Peace. Organização C. Schaffner e A. Wenden. Aldershot: Dartmouth, 1995, p. 17-33.
WALKER, Alice. In search of our mothers’ gardens: womanist prose. San Diego: Harcourt, 1983.
ZILBERMAN, Regina. Como e por que ler a literatura infantil brasileira. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.
Publicado
2021-01-21