CIENTIFICISMO E NEGACIONISMO NO ATIVISMO ANTIGÊNERO DO OBSERVATÓRIO INTERAMERICANO DE BIOPOLÍTICA

Palavras-chave: Observatório Interamericano de Biopolítica. Think Tank. Gênero. Cientificismo. Direitas.

Resumo

Este estudo investiga o uso de táticas cientificistas pelo Observatório Interamericano de Biopolítica – OIB, organização do terceiro setor que vem atuando como um think tank do movimento antigênero no Brasil. Problematiza-se como o uso de discursos com adornos científicos se constitui uma mudança de paradigma nos movimentos antigêneros contemporâneos. Adota-se como hipótese que o OIB é um think tank antigênero que se utiliza do discurso cientificista para conseguir uma maior penetração nos ambientes considerados laicos, especialmente, em universidades e instituições políticas. As técnicas de análise de conteúdo e de discurso foram utilizadas no tratamento dos dados. Conclui-se que neste contexto discursivo, o sintagma “ideologia de gênero” tem sido utilizado de forma recorrente pelo Observatório Interamericano de Biolítica para atacar a educação sexual na escola, os direitos reprodutivos e os estudos de gênero.

 

Biografia do Autor

Ana Kelma Cunha Gallas, Universidade Federal do Piauí (UFPI)

Mestre em Antropologia e Arqueologia pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Doutoranda em Políticas Pública na UFPI. Professora do Centro Universitário Santo Agostinho (UNIFSA).

Olívia Cristina Perez, Universidade Federal do Piauí (UFPI)

Doutora em Ciência Política e mestre em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP). Tem estágio pós-doutoral no Programa de Investigación en Ciencias Sociales, Niñez y Juventud (CLACSO/CINDE). É Professora Adjunta na Universidade Federal do Piauí (UFPI) vinculada aos cursos de bacharelado e mestrado em Ciência Política e ao programa de pós-graduação (mestrado e doutorado) em Políticas Públicas. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. UFPI - Universidade Federal do Piauí. Departamento de Ciência Política.

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Publicado
2024-12-09