RACISMO EPISTÊMICO E SECULARIZAÇÃO RELIGIOSA NA PSICANÁLISE :ENTRAVES ÉTICOS PARA A FORMAÇÃO DE PSICANALISTAS BRASILEIROS
Resumo
O artigo propõe uma análise crítica sobre a secularização do discurso religioso na conformação do discurso científico moderno, bem como seus desdobramentos no interior da obra freudiana. Nos interessa sublinhar, em um primeiro momento, que a racionalidade científica se estruturou a partir do recalque à alteridade, operando uma hierarquização epistêmica que acompanhou a divisão racial do trabalho e organizou cognitivamente o capitalismo a partir de então. Em seguida tomamos o processo de secularização do discurso religioso na epistemologia psicanalítica, marcada por um projeto científico e por uma classificação valorativa dos conhecimentos terapêuticos que guarda importantes reflexões sobre a sua atual restrição ao diálogo horizontal com saberes historicamente subalternizados em solo brasileiro. Sendo esses saberes de matrizes africanas e indígenas, acusamos aí um racismo epistêmico. Tal análise busca contrapor a diretriz ética da Psicanálise contemporânea aos discursos coloniais e capitalistas que a atravessam. Um esforço de descolonização da formação psicanalítica brasileira.
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