DEUS NO COMANDO: UMA ANÁLISE DO DISCURSO “NARCOPENTECOSTAL”
Resumo
O presente artigo examina o embate, no interior da enunciação jornalístico-midiática, em torno da etiqueta discursiva “narcopentecostal”, que rotula um “novo” cenário entre a prática do proselitismo e a intolerância religiosa. Visa-se verificar as condições de enunciabilidade da palavra “narcopentecostal” em notícias sobre a intolerância religiosa contra religiões de matriz africana. Um quadro teórico-metodológico interdisciplinar constituído pelos estudos nos campos da Antropologia, da Religião e da Análise do Discurso fundamenta a presente discussão. Como corpus de análise, aproximamos cinco enunciados que materializam o neologismo “narcopentecostal” como forma de nomear grupos de traficantes armados que destroem terreiros de umbanda e candomblé. Os resultados indicam que a etiqueta “narcopentecostal” desvela o embate histórico entre posicionamentos discursivos no campo religioso. As questões político-religiosas e o avanço do [neo]Pentecostalismo no Brasil e sua imersão pragmática em contextos periféricos ganham espaço nos debates sociais, substanciando um novo capital midiático.
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