A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA DE PROFISSIONAIS DA SUPERVISÃO ESCOLAR PAULISTANA
Resumo
Este artigo deriva de uma pesquisa que teve como objeto de análise a construção identitária de supervisores escolares da Rede Municipal de Ensino de São Paulo. Com base em uma abordagem qualitativa (Lankshear; Knobel, 2008) e sustentação teórico-argumentativa em escritos de autores como John Dewey, João Formosinho, Júlia Oliveira-Formosinho, Maurice Tardif, Claude Dubar e Paulo Freire, buscou-se compreender como se constituem os saberes, as práticas e as percepções desses profissionais, considerando suas trajetórias formativas, o exercício cotidiano na profissão e os sentidos atribuídos à sua atuação político-pedagógica. A produção dos dados envolveu análise documental, realização de sessões de grupo focal e entrevistas com dez supervisores escolares. Os resultados revelam que esses profissionais enfrentam desafios complexos, evidenciando-se dissonâncias entre o perfil institucionalmente esperado, a formação efetivamente oferecida e as exigências concretas da prática cotidiana. Houve relatos de sentimentos de despreparo ao ingressar no cargo e indicações da necessidade constante de conciliar as demandas burocráticas com as dimensões pedagógicas do trabalho, o que demonstra que a(s) identidade(s) desse segmento encontra(m)-se em processo contínuo de construção, marcada(s) por experiências anteriores e tensionadas por resistências institucionais e pressões externas. Ainda que atravessados por tarefas administrativas que, por vezes, obscurecem sua função pedagógica, esses profissionais reconhecem na Supervisão Escolar um potencial formativo e transformador. Reivindicam, assim, espaços de atuação mais dialógicos e democráticos, nos quais possam exercer plenamente o papel político que compreendem como intrínseco à função, apostando na construção de coletivos capazes de fomentar políticas públicas mais justas e efetivas para a educação.
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