ENTRE A LÍNGUA E A FALA SAUSSURIANAS: ESPAÇO DE SURGIMENTO E DESDOBRAMENTOS DAS TEORIAS FUNCIONALISTAS, ENUNCIATIVAS E DISCURSIVAS NO CAMPO DA CIÊNCIA LINGUÍSTICA
Résumé
O presente artigo tem por objetivo, a partir da história das ideias linguísticas, problematizar os limites e as possibilidades do corte epistemológico operado por Ferdinand de Saussure para o estabelecimento da Linguística no campo das ciências humanas e sociais. O mestre genebrino, no intuito de garantir o estatuto de cientificidade da Linguística moderna, estabeleceu o objeto desta dicotomizando língua e fala, sistema e uso. Defende-se, pois, que, ao estruturar os estudos linguísticos, elegendo a língua/sistema em detrimento da fala/uso, Saussure (2012) não somente operou o corte que instituiu a Linguística como ciência mestra das ciências humanas e sociais, mas também excluiu do campo da cientificidade o sujeito e, juntamente com ele, a história e a ideologia, abrindo, assim, uma fissura no campo dos estudos linguísticos. Aponta-se, como resultado central da reflexão, que, no projeto teórico saussuriano, o espaço existente entre a Língua, enquanto sistema, e a Fala, enquanto uso concreto da linguagem que abre espaço para essa referenciação da realidade histórica, é o lócus propício/necessário para o surgimento dos Funcionalismos linguísticos e das Teorias enunciativas e discursivas. Entende-se, pois, que, em alguma medida, todas essas vertentes teóricas emanaram do esforço epistemológico de se compreender como se processa, na esteira da ciência linguística e - de forma mais ampla – no bojo das ciências humanas e sociais, a passagem da língua para fala, do sistema para o uso, da abstração teórica para a concretude histórica das práticas linguísticas dos humanos em sociedade.
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