CORPO-TERRITÓRIO DE AXÉ: NAS ENCRUZILHADAS ENTRE O CANDOMBLÉ E A PSICOLOGIA
Resumo
Este artigo tem por objetivo circunscrever o corpo, a partir de deslocamentos trazidos pelo candomblé, enquanto corpo-território e explorar suas ressonâncias para a prática clínica da psicologia. Por meio de uma breve historiografia do corpo, destaca-se algumas concepções modernas até o encontro com a fenomenologia. Em diálogo com as considerações de Merleau-Ponty, faz-se possível circunscrever o protagonismo da corporeidade no candomblé que se relaciona com agentes do espaço criando uma rede confluente entre corpo e território: o tambor, a natureza, a dança, a comida, o orixá - todos habitam e são habitados pelo filho de santo. Desta forma, entende-se o corpo-território como uma força de ação política no mundo e um espaço que salvaguarda a herança cultural possível de reconstituir a soberania de corpos subalternizados e diaspóricos, deslocando, por fim, concepções eurocêntricas sobre estes.
Referências
ALVIM, M. B. A ontologia da carne em Merleau-Ponty e a situação clínica na Gestalt-terapia: entrelaçamentos. Rev. abordagem gestalt., Goiânia, v. 17, n. 2, p. 143-151, dez. 2011. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-68672011000200005&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 13 set. 2023.
ANDRADE A. M.; VELAZCO E. H. B. Concepções de território: um estudo da diversidade e da diferença cultural. Rio de Janeiro: Consequência Editora, 2023.
AUGRAS, M. Transe e construção de identidade no candomblé. Psicol., Teori., Pesqui., Brasília, v. 2, n.° 3, p. 191-200, set./dez. 1986. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/revistaptp/article/view/16999/15484. Acesso em: 10 ago. 2023.
BARBARA, R. S. A DANÇA DAS AIABÁS - Dança, corpo e cotidiano das mulheres de candomblé. Tese de Doutorado em Sociologia. São Paulo: USP, 2002. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8132/tde-09082004-085333/. Acesso em: 2 jul. 2023.
BARBOSA, M. R.; MATOS, P. M.; COSTA, M. E. Um olhar sobre o corpo: o corpo ontem e hoje. Psicologia & Sociedade, v. 23, n. 1, p. 24-34, 2011. Disponível em: scielo.br/j/psoc/a/WstTrSKFNy7tzvSyMpqfWjz/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 20 jul. 2023.
Conselho Federal de Psicologia (Brasil). Referências técnicas para atuação de psicólogas(os) para a atuação de psicólogas(os) com povos tradicionais. 1. ed. Brasília: CFP, 2019.
Cruz Hernández, D. T. Una mirada muy otra a los territorios-cuerpos femeninos. Solar, v. 12, n.1, p. 35-46, 2017. Disponível em: https://www.biblioteca.bepe.org.ar/items/show/332. Acesso em: 10 ago. 2023.
DIMENSTEIN, M. A cultura profissional do psicólogo e o ideário individualista: implicações para a prática no campo da assistência pública à saúde. Estudos de Psicologia, Natal, v. 5, n. 1, p. 95–121, jan. 2000. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1413-294X2000000100006. Acesso em: 10 ago. 2023.
ELIADE, M. Mito e realidade. 6. ed. São Paulo: Perspectiva, 2019.
GOLDMAN, M. A construção ritual da pessoa: a possessão no candomblé. Religião e Sociedade, v. 12, n. 1, p. 22-54, 1985.
_______. Formas do saber e modos do ser: observações sobre multiplicidade e ontologia no candomblé. Religião e Sociedade, v. 25, n.2, p. 102-120, 2005. Disponível em: religiaoesociedade.org.br/wp-content/uploads/2021/09/Religiao-e-Sociedade-N25.02-2005.pdf. Acesso em: 10 ago. 2023.
GORSKI, C. RITUAL DE INICIAÇÃO NO CANDOMBLÉ DE KETÚ: UMA EXPERIÊNCIA ANTROPOLÓGICA. Todavia, Ano 3, nº 4, p. 52-64, jul. 2012. Disponível em: https://www.ufrgs.br/revistatodavia/Ed.%204%20-%20Artigo%204.pdf. Acesso em: 20 jul. 2023.
GUATARRI, F. Caosmose - um novo paradigma estético. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2019.
HAESBAERT, R. Território e descolonialidade: sobre o giro (multi)territorial/de(s)colonial na “América Latina”. 1. ed. Niterói: UFF, 2021.
KLEIN, T. Exu e a Psicanálise: da culpa à ilusão. Tempo Psicanalítico, Rio de Janeiro, v. 54.2, p. 514-534, 2022. Disponível em: https://tempopsicanalitico.com.br/tempopsicanalitico/article/view/748/323. Acesso em: 11 maio 2023.
LINDENMEYER, C. Qual é o estatuto do corpo na psicanálise?. Tempo psicanal., Rio de Janeiro , v. 44, n. 2, p. 341-359, dez. 2012. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-48382012000200006&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 13 set. 2023.
MALOMALO, B. Macumba, macumbização e desmacumbização. In: SILVEIRA, R. A. T. DA.; LOPES, M. C. (Orgs.). A Religiosidade Brasileira e a Filosofia. Porto Alegre: Editora Fi, 2016.
MARTINS, L. M. Afrografias da memória: O reinado do Rosário no Jatobá. 1. ed. São Paulo: Perspectiva, 1997.
MARTINS, N. F. et al. Corporeidade do candomblé pelo olhar de Neves e Sousa. Kwanissa, São Luís, v. 4, n. 8, p. 241 - 260, jan/.jun, 2021. Disponível em: https://periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/kwanissa/article/view/16127/8899. Acesso em: 13 set. 2023.
MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
MORAIS, M. R. DE. “Povos e comunidades tradicionais de matriz africana” no combate ao “racismo religioso”: a presença afro-religiosa na Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial. Religião & Sociedade, v. 41, n. 3, p. 51–74, set. 2021. Disponivel em: https://www.scielo.br/j/rs/a/gqQYQ4p5DFq4Vkb7D9ypzsx/#. Acesso em: 3 ago. 2023.
POZZANA DE BARROS, L. Um Estudo Teórico Sobre a Noção de Corpo: articulações com Merleau-Ponty e Francisco Varela. Informática na Educação: teoria & prática, Porto Alegre, v. 12, n. 2, p. 70-81, jul./dez. 2009. Disponível em: https://doi.org/10.22456/1982-1654.9336. Acesso em: 13 set. 2023.
PRADO FILHO, K.; TRISOTTO, S. O corpo problematizado de uma perspectiva histórico-política. Psicologia em Estudo, v. 13, n. 1, p. 115-121, mar. 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1590/s1413-73722008000100014. Acesso em: 10 ago. 2023.
PRANDI, R. O candomblé e o tempo: concepções de tempo, saber e autoridade da África para as religiões afro-brasileiras. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 16, n. 47, out. 2001. Disponível em: https://doi.org/10.1590/s0102-69092001000300003. Acesso em: 10 ago. 2023.
RABELO, M. C. M. Aprender a ver no candomblé. Horizontes Antropológicos, v. 21, n. 44, p. 229-251, dez. 2015. Disponível em: https://doi.org/10.1590/s0104-71832015000200010. Acesso em: 20 ago. 2023.
BASTIDE, R. O candomblé da Bahia (rito Nagô). 1. ed. São Paulo: Editora Nacional, 1961.
ROLNIK, S. Cartografia Sentimental - Transformações Contemporâneas do Desejo. 2. ed. Porto Alegre; Sulina; Editora da UFRGS, 2011.
SANSI, R. “Fazer o santo”: dom, iniciação e historicidade nas religiões afro-brasileiras. Análise Social, v. 44, n. 1, p. 139-160, 2009. Disponível em: http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1236787502X4rFI6fj3Zm36GE2.pdf. Acesso em: 10 jul. 2023.
SANTOS, A. B. DOS. Colonização, quilombos, modos e significados. 1. ed. Brasília: UNB, 2015.
SANTOS, A. O. O Enegrecimento da Psicologia: Indicações para a Formação Profissional. Psicologia: ciência e profissão, v. 39, p. 159-171, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1982-3703003222113. Acesso em:
SANTOS, M. S. DOS. Mito, possessão e sexualidade no candomblé. Revista Nures, v. 8, n. 1, p. 1-9, jan./abril, 2008. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/nures/article/view/7216/5219. Acesso em: 10 ago. 2023.
SILVA, F. T. Candomblé Iorubá: a relação do homem com seu orixá pessoal. La Salle, v. 16, n. 2, p. 63-75, jul./dez. 2011. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/ultimoandar/article/view/13984/10290. Acesso em: 10 ago. 2023.
SILVA, V. G. da. Candomblé e Umbanda - Caminhos da Devoção Brasileira. 5. ed. São Paulo: Selo Negro, 2005.
SILVEIRA, F. DE A.; FURLAN, R. Corpo e Alma em Foucault: postulados para uma metodologia da Psicologia. Psicologia USP, v. 13, n. 3, p. 171-194, 2003. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pusp/a/MB7sG7z3wjjwcsBDL8fZ7fL/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 10 ago. 2023.
SIMAS, L. A.; RUFINO, L. Encantamento - sobre políticas de vida. 1. ed. Rio de Janeiro: Mórula, 2020.
SIMAS, L. A. Crônicas exusiácas e estilhaços pelintras. 1. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2023.
SODRÉ, M. Pensar Nagô. Petrópolis: Vozes, 2017.
_______. O terreiro e a cidade: a forma social do negro-brasileiro. Rio de Janeiro: Imago, 2002.
VALE DE ALMEIDA, M. Corpo presente. In: VALE DE ALMEIDA, M. (Org.). Corpo presente - Treze reflexões antropológicas sobre o corpo. Portugal: Celta, 1996.
A submissão de originais para este periódico implica na transferência, pelos autores, dos direitos de publicação impressa e digital. Os direitos autorais para os artigos publicados são do autor, com direitos do periódico sobre a primeira publicação. Os autores somente poderão utilizar os mesmos resultados em outras publicações indicando claramente este periódico como o meio da publicação original. Em virtude de sermos um periódico de acesso aberto, permite-se o uso gratuito dos artigos em aplicações educacionais, científicas, não comerciais, desde que citada a fonte (por favor, veja a Licença Creative Commons no rodapé desta página).