DO PLANTIO DE SEMENTES À COLHEITA DE RECORDAÇÕES

Resumo

Os moradores do reassentamento Flor da Serra que viviam e trabalhavam às margens do rio Tocantins com o qual possuíam fortes vínculos (BATISTA, 2009). Para eles, cada época de plantio e de colheita de frutos era motivo de encontro, alegria e festa com parentes e amigos enquanto constituíam suas referências identitárias. Até que a usina hidrelétrica de Lajeado, no Tocantins, “afogou” a terra e mergulhou a vida deles em tristeza, frustração e incertezas. Mas as experiências de plantar, cultivar e colher, no passado, têm se transformado em memória e recordações nas narrativas orais marcadas por poeticidade. Isso permite atualizar histórias, espaços, afetos, testemunhos, palavras e fatos representativos, ou seja, toda a riqueza cultural que precisa ser revigorada para não desaparecer, conforme teorizam Zumthor (2014; 2010); Bakhtin (2004; 2003); Assmann (2011); Benjamin (2012). O objetivo deste trabalho é refletir como as experiências, narradas oralmente por reassentados do Flor da Serra, até o momento, têm se tornado uma sementeira de recordações. Metodologicamente, foram utilizadas entrevistas semiestruturadas e observações da vida real. O repertório marcado por subjetividade e poeticidade revela pessoas que, desalentadas por terem sido deslocadas da terra de origem, encontram na narrativa uma maneira de fazer a travessia entre presente e passado, entre as experiências pessoais e coletivas para encararem os desafios atuais.