A POTÊNCIA DO CUIDADO NA FEMINIZAÇÃO DOCENTE: DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO E POLITIZAÇÃO FEMINISTA PARA ATRAVESSAR A PANDEMIA

Palavras-chave: Feminização Docente. Divisão Sexual do Trabalho. Pedagogia Macunaímica.

Resumo

O artigo propõe três movimentos; o primeiro apresenta questões de método na centralidade do conceito de divisão sexual do trabalho, na feminização da docência na Educação Básica e os desafios da profissionalização e politização docente.  No segundo movimento, ‘navegar é preciso’, será apresentada uma breve exposição de como a maré feminista negra tem reenergizado de potências da resistência, para construção de novos paradigmas, com outros princípios éticos, estéticos e políticos, apontando tecnologias sociais das mulheres negras de luta pela vida, com criatividade, solidariedade, visando às relações de educação e cuidado. Por fim, fecha-se com uma proposição metodológica de descolonização de territórios-corpos, reinventando modos de ser-estar no mundo, por meio da conscientização das linguagens e práticas que são construídas na educação e em especial na Pedagogia da infância, tendo nas infâncias brasileiras potências de produções de conhecimentos, defendendo uma pedagogia macunaímica: indígena, africana, europeia, híbrida à brasileira.

Biografia do Autor

Ana Lúcia Goulart de Faria, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

Pós-Doutorado pela Università degli Studi di Milano-Bicocca (UNIMIB), Itália. Doutorado em Educação pela Universidade de São Paulo (USP). Mestrado em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). Professora da Faculdade de Educação da Unicamp.

Adriana Alves da Silva, Universidade Estadual de Santa Catarina (UDESC)

Doutora em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Mestra em Multimeios pela Universidade Estadual de Campinas. Licenciada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Campinas. 

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Publicado
2022-03-03