MODULAÇÕES BIOPOLÍTICAS EM TORNO DO TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORÂNEO: QUESTÕES DISCURSIVAS E PERFORMATIVAS
Abstract
Este artigo tem como objetivo oferecer uma leitura crítica do discurso jurídico em torno do Trabalho Escravo Contemporâneo (TEC), a partir da articulação entre as noções de linguagem como performance e de biopolítica. Para tanto, por uma abordagem interpretativista em pesquisa qualitativa, analisamos os efeitos biopolíticos produzidos pela circulação de atos de fala em diferentes instâncias das práticas sociais do Inquérito nº 3.412/AL do Supremo Tribunal Federal e do Projeto de Lei nº 432, de 2013, no Senado Federal. De modo genérico, constatamos que, apesar de o Estado Brasileiro firmar uma noção abrangente de TEC, o que se observa, do ponto de vista formal, é uma modulação biopolítica no discurso jurídico-político mediante a qual concepções restritivas e arcaicas sobre o TEC aparecem engajadas na destituição performativa da condição reconhecível de trabalhadores enquanto sujeitos de Direitos Humanos, em face de regimes discursivos que legitimam desigualdades estruturais e processos de hierarquização da vida humana implicados na produção de vidas nuas.
References
AGAMBEN, Giorgio. Estado de Exceção. São Paulo: Boitempo, 2008.
AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer: o poder soberano e a vida nua. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014.
ALMEIDA, Silvio. Racismo estrutural. São Paulo: Polén, 2019.
ANDRADE, Shirley Silveira. A Formação da Consciência do Trabalhador Rural Escravizado: Reflexões Sobre as Potencialidades dos Processos Formativos Desenvolvidos pela Comissão Pastoral da Terra no Tocantins. Tese (Doutorado em Educação), Universidade de Brasília, Brasília, 2015.
AUSTIN, John Langshaw. Quando dizer é fazer. Palavras e ação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.
CARVALHO, José Lucas Santos. Trabalho Escravo Contemporâneo em disputa: direitos humanos, vida nua e biopolítica. Curitiba: Appris, 2020.
BALES, Kevin. Disposable People: new slavery in the global economy. 3. ed. Berkeley: University of California Press, 2012.
BAUMAN, Zygmund. Vidas desperdiçadas. Tradução Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
BRASIL. Informativo do Departamento Penitenciário Nacional 2019. Ministério da Justiça e da Segurança Pública. Disponível em: http://depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopen . Acesso em: 02 jun. 2020.
BRASIL. Lei nº 10.803, de 11 de dezembro de 2003. Altera o art. 149 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, para estabelecer penas ao crime nele tipificado e indicar as hipóteses em que se configura condição análoga à de escravo. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.803.htm#art149. Acesso em: 20 fev. 2018.
BRASIL. Ministério Público do Trabalho. Observatório Digital do Trabalho Escravo no Brasil. Disponível em: https://observatorioescravo.mpt.mp.br/. Acesso em: 18 fev. 2019.
BRASIL. Ministério do Trabalho. Resultados das operações de fiscalização para erradicação do trabalho escravo. 2016-1998. Disponível em: http://trabalho. gov.br/fiscalizacao-combate-trabalho-escravo/resultados-das-operacoes-de-fis¬calizacao-para-erradicacao-do-trabalho-escravo. Acesso em: 15 jan. 2018.
BRASIL. Ministério Público Federal. Denúncias decorrentes de fiscalizações do Ministério do Trabalho. Disponível em: http:2ccr.pgr.mpf.mp.br/coordenacao/ grupos-de-trabalho/gt-escravidao-contemporanea/denuncias-e-recursos. Acesso em: 20 dez. 2017.
BRASIL. Senado Federal. Projeto de Lei do Senado nº 432, de 2013 (da Comissão Mista criada pela ATN nº 2, de 2013). Dispõe sobre a expropriação das propriedades rurais e urbanas onde se localizem a exploração de trabalho escravo e dá outras providências. Brasília, 2013. Disponível em: http://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=3773638&disposition=inline. Acesso em: 20 nov. 2017.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Inquérito nº 3412/AL. Ministério Público Federal denúncia em face de João José Pereira de Lyra e Antônio José Pereira de Lyra. Relatoria Ministro Marco Aurélio. Julgamento em: 29 mar. 2012b. Disponível em: http://stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarConsolidada.asp?base=baseAcordaos&base=baseRepercussao&url=&txtPesquisaLivre=trabalho%20escravo. Acesso em: 23 out. 2017.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Inquérito nº 2131/DF. Ministério Público Federal denúncia em face de João Batista de Jesus Ribeiro e Osvaldo Brito Filho. Relatoria Ministra Ellen Gracie. Relatoria para acórdão Ministra Rosa Weber. Julgamento em: 23 fev. 2012a. Disponível em: http://stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarConsolidada.asp?base=baseAcordaos&base=baseRepercussao&url=&txtPesquisaLivre=trabalho%20escravo. Acesso em: 23 out. 2017.
CASTILHO, Ela Wiecko Volkmer de. Considerações sobre a interpretação jurídico-penal em matéria de escravidão. Estudos avançados, v. 14, n. 38, São Paulo, 2000, p. 51-65. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000100004. Acesso em: 20 dez. 2017.
COMISSÃO PASTORAL DA TERRA. Entre idas e vindas: novas dinâmicas de migração para o trabalho escravo. 1. ed. São Paulo: Urutu-Branco, 2017. Disponível em: https://www.cptnacional.org.br/component/jdownloads/send/25-cartilhas/14036-entre-idas-vindas-novas-dinamicas-de-migracao-para-o-trabalho-escravo?Itemid=0. Acesso em: 16 maio 2019.
DERRIDA, Jacques. Margens da filosofia. Campinas: Papirus, 1991.
DORIGNY, Marcel; GAINOT, Bernard. Atlas das escravidões. Da Antiguidade até nossos dias. Tradução de Guilherme João de Freitas Teixeira. Petrópolis: Vozes, 2017.
FIGUEIRA, Ricardo Rezende. Por que o trabalho escravo?. Estudos Avançados, v. 14, n. 38, São Paulo, jan./abr. 2000. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000100003. Acesso em: 08 jan. 2018.
FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 2012.
GIMBO, Fernando. Uma arqueologia do mercado. Kalagatos, v. 14, n. 2, p. 145-163, maio/ago., 2017.
GIMBO, Fernando. Para uma análise performativa do discurso: Foucault e o “materialismo do incorporal”. Sapere aude, v. 9, n. 17, p. 255-267, jan./jun. 2018.
KILOMBA, Grada. Memórias da plantação. Episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.
LAZZARI, Márcia Cristina. Direitos humanos e trabalho escravo contemporâneo. Passagens: Revista Internacional de História Política e Cultura Jurídica, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p. 62-82, jan./abr. 2016. Disponível em: http://www.revistapassagens.uff.br/index.php/Passagens/article/view/85. Acesso em: 10 jan. 2019.
MOREIRA, Adilson José. Rev. Direito, poder, ideologia: discurso jurídico como narrativa cultural. Direito e Práx, v. 08, n. 2, p. 830-868, 2017.
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Perfil dos principais atores envolvidos no trabalho escravo rural no Brasil. Brasília, 2011. Disponível em: http://www.oitbrasil.org.br/sites/default/files/topic/gender/pub/perfil%20atores%20trabalho%20escravo%20rural_632.pdf. Acesso em: 30 maio 2017.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos. Formas Contemporâneas de Escravatura. Ficha Informativa nº 14. 2004. Disponível em: http://gddc.ministeriopublico.pt/sites/default/files/documentos/pdf/ficha_informativa_14_formas_escravatura.pdf. Acesso em: 20 jan. 2017.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Relatório da Relatora Especial da ONU sobre formas contemporâneas de escravidão, incluindo suas causas e consequências sobre sua visita ao Brasil. 2010. Disponível em: http://pfdc.pgr.mpf.mp.br/atuacao-e-conteudos-de-apoio/publicacoes/trabalho-escravo/relatorio-da-relatora-especial-onu-sobre-formas-contemporaneas-de-escravidao. Acesso em: 20 jun. 2017.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Trabalho Escravo. Brasília, abril de 2016. Disponível em: https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2016/04/position-paper-trabalho-escravo.pdf. Acesso em: 20 jan. 2017.
PÉREZ NAVARRO, Pablo. Del texto al sexo. Judith Butler y la performatividad. Madrid: Egales, 2007.
SILVA, Danillo da Conceição Pereira Silva. Quando dizer é violentar: violência linguística e transfobia em comentários online. Salvador: Devires, 2019.
VIEIRA, Oscar Vilhena. A desigualdade e a subversão do Estado de Direito. Sur, Revista Internacional de direitos humanos, v. 4, n. 6, 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1806-64452007000100003&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 25 jan. 2018.
UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME. Human Development Report 2016. New York, USA. Disponível em: https://www.undp.org/content/dam/brazil/docs/RelatoriosDesenvolvimento/undp-br-2016-human-development-report-2017.pdf. Acesso em: 15 ago. 2018.
Copyright Notice
The submission of originals to this periodic implies in transference, by the authors, of the printed and digital copyrights/publishing rights. The copyrights for the published papers belong to the author, and the periodical owns the rights on its first publication. The authors will only be able to use the same results in other publications by a clear indication of this periodical as the one of its original publication. Due to our open access policy, it is allowed the free use of papers in the educational, scientific and non-commercial application, since the source is quoted (please, check the Creative Commons License on the footer area of this page).