OS ÓRFÃOS REMEMORAM: EXPERIÊNCIA E MEMÓRIA EM 2666, DE ROBERTO BOLAÑO
Resumo
Este trabalho considera a função que desempenham algumas personagens de 2666 (2004), do chileno Roberto Bolaño, obra que representa algumas das violências desmedidas que se proliferam na América Latina pós ditaduras, bem como, em certa medida, a derrota da civilização em que desemboca o século XX. Observa-se o modo pelo qual o processo de naturalização dessas opressões se desenvolve na narrativa e como a ausência de sensibilidade para com elas permite que sejam reiteradamente esquecidas pelo discurso histórico hegemônico. Assim, propõe-se analisar a questão da violência plural e substantiva produzida a partir dessa dinâmica, partindo, primordialmente, do tratamento da história proposto por Walter Benjamin em suas teses (1940) para analisar a caracterização de personagens do terceiro capítulo da obra que parecem resistir à homogeneização e normatização cultural imposta. Interessa-nos, assinalar a singularidade que os destaca na narrativa devido a características que serão aqui abordadas como relacionadas à articulação da memória.
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