CORPO-TERRITÓRIO DE AXÉ: NAS ENCRUZILHADAS ENTRE O CANDOMBLÉ E A PSICOLOGIA

Palavras-chave: Corpo-território. Candomblé. Psicologia. Corporeidade.

Resumo

Este artigo tem por objetivo circunscrever o corpo, a partir de deslocamentos trazidos pelo candomblé, enquanto corpo-território e explorar suas ressonâncias para a prática clínica da psicologia. Por meio de uma breve historiografia do corpo, destaca-se algumas concepções modernas até o encontro com a fenomenologia. Em diálogo com as considerações de Merleau-Ponty, faz-se possível circunscrever o protagonismo da corporeidade no candomblé que se relaciona com agentes do espaço criando uma rede confluente entre corpo e território: o tambor, a natureza, a dança, a comida, o orixá - todos habitam e são habitados pelo filho de santo. Desta forma, entende-se o corpo-território como uma força de ação política no mundo e um espaço que salvaguarda a herança cultural possível de reconstituir a soberania de corpos subalternizados e diaspóricos, deslocando, por fim, concepções eurocêntricas sobre estes.

Biografia do Autor

Giovani Florencio, Universidade Federal Fluminense (UFF)

Graduando em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense.

Thais Klein, Universidade Federal Fluminense (UFF)

Psicanalista, doutora em Saúde Coletiva (IMS-UERJ) e doutora em Teoria Psicanalítica (PPGTP-UFRJ). Professora adjunta da Universidade Federal Fluminense (UFF-CURO) e professora do programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica (UFRJ). Membro do Grupo Brasileiro de Pesquisa Sandor Ferenczi (GBPSF) e do  NEPECC (UFRJ-IPUB).

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Publicado
2024-08-12
Seção
FLUXO CONTÍNUO - Artigos