SIGNIFICADOS DA MATERNIDADE “TARDIA”: UMA INTERLOCUÇÃO ENTRE A PSICANÁLISE E OS ESTUDOS FEMINISTAS

Palavras-chave: Maternidade. Psicanálise. Estudos Feministas.

Resumo

Propõe-se investigar os significados da experiência da maternidade “tardia”, tomando como referência teórica a psicanálise e os estudos feministas. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, exploratória e documental. Como instrumento de análise, utilizaram-se blogs e perfis na rede social Instagram que trazem em seu bojo depoimentos e comentários realizados por suas seguidoras sobre a vivência de uma gestação depois dos 35 anos, faixa etária considerada pela medicina como tardia e, portanto, de alto risco. Os dados foram tratados a partir da análise de conteúdo, trazendo significados que se relacionam com desde a “luta” para engravidar, passando pela expectativa ansiosa em relação à saúde do bebê, por sentimentos de culpa em função do adiamento da maternidade, oriundos de um discurso médico opressor, até a vivência do processo subjetivo do “tornar-se mãe”. Concluiu-se que até escolherem engravidar, as mulheres, de modo geral, sofrem atravessamentos discursivos associados à maternidade compulsória.

Biografia do Autor

Jamile Luz Morais-Monteiro, Universidade Federal do Tocantins (UFT)

Psicóloga e psicanalista, doutora em psicologia social pela PUC/SP. Professora Adjunta do Curso de Psicologia na Universidade Federal do Tocantins (UFT). Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisa em Saúde Mental (GEPSAM/UFT).

Noemi Medeiros Rocha, Universidade Federal do Tocantins (UFT)

Psicóloga, UFT.

Gabriella Pereira Santana, Universidade Federal do Tocantins (UFT)

Psicóloga, UFT. 

Susana Gomes Almeida, Universidade Federal do Tocantins (UFT)

Psicóloga, UFT.

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Publicado
2024-10-15
Seção
Artigos