PSICANÁLISE, RACISMO E PENSAMENTO DECOLONIAL

Palavras-chave: Psicanálise. Raça. Identidade. Colonialidade. Capitalismo.

Resumo

Este artigo visa investigar, de maneira exploratória, as possibilidades teórico-clínicas de articulação entre psicanálise e teorias decoloniais. Utiliza a metodologia de revisão bibliográfica para destacar autoras(es)-chave do pensamento decolonial, a fim de analisar o entrelaçamento da psicanálise com a colonialidade, desde o recorte do racismo. Por um lado, situa a discriminação racial no campo da dinâmica psíquica e do inconsciente; por outro, relaciona a questão racial aos conceitos psicanalíticos em sua interface com os fenômenos sociais. A reflexão sobre como o racismo atravessa as subjetividades (brancas e pretas) é fundamental e faz-se urgente a promoção de uma escuta atenta ao sofrimento racial. O artigo conclui que o diálogo interdisciplinar é essencial para a promoção de avanços da técnica. Finalmente, coloca novas questões às quais a psicanálise é convocada a responder, tanto no cotidiano da clínica quanto em nível teórico, para estar atenta ao horizonte da subjetividade de nossa época.

Biografia do Autor

Carla Cristina Karpem, Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Psicóloga formada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Colaboradora do Projeto MOVE – Movimentos Migratórios e Psicologia/UFPR.

Elaine Cristina Schmitt Ragnini , Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Professora Doutora do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFPR. Coordenadora do Projeto MOVE – Movimentos Migratórios e Psicologia/UFPR.

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Publicado
2023-08-11