CONTRIBUIÇÕES PSICANALÍTICAS SOBRE O RACISMO BRASILEIRO:UMA HISTÓRIA FEITA POR MULHERES NEGRAS

Palavras-chave: Psicanalistas negras. Psicanálise brasileira. Racismo. Negritude.

Resumo

Este artigo se propõe a discutir as principais contribuições psicanalíticas para os estudos sobre o racismo no Brasil, demonstrando que se trata de uma história construída sobretudo por mulheres negras. Destaca o trabalho de Virgínia Bicudo como antecessora dessas contribuições, que se desdobram posteriormente em três tempos: o primeiro tempo é representado pela obra de Neusa Souza, que destaca as incidências coloniais e subjetivas do racismo no inconsciente; o segundo tempo é situado a partir de Lélia Gonzalez, que estabelece um contraponto teórico, focando nas figuras da mãe-preta e seu papel na transmissão da lalíngua amefricana, uma dimensão da negritude que resiste à dominação colonial. O terceiro tempo é remetido ao atual momento de retomada dos estudos raciais pela psicanálise brasileira, como um tempo de coletivização da produção e de compromisso político com o resgate das perspectivas de crítica do racismo e de afirmação da negritude.

Biografia do Autor

Fábio Santos Bispo, Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

Doutor em Psicologia e Pós-doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais. Professor Adjunto do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Institucional da Universidade Federal do Espírito Santo.

Mariana Mollica da Costa Ribeiro Araujo, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Pós-doutoranda Sênior da FAPERJ pelo Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Doutora em Teoria Psicanalítica pela UFRJ.

Beatriz Oliveira da Silva, Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

Mestre em Psicologia Institucional pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia Institucional da Universidade Federal do Espírito Santo. 

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Publicado
2023-08-11