O PACTO PERVERSO DA BRANQUITUDE: SOBRE O DIREITO SOBERANO DE MATAR NO AMAPÁ

Palavras-chave: Pacto Narcísico da Branquitude. Racismo. Perversão. Violência Policial no Amapá.

Resumo

Pretende-se através desse escopo propor uma breve digressão a partir do conceito de pacto narcísico da branquitude de Bento (2014) e a perversão, considerando a função do véu na noção de objeto fetiche apresentada no “Seminário Livro 4: A relação de objeto” (1956-57) de J. Lacan. Tensiona-se tais aproximações para investigar a perversão na estruturação do pacto narcísico da branquitude no Brasil. Para tanto, consideramos uma encruzilhada específica: quem é o alvo da polícia militar que por três anos consecutivos é a que mais mata do país? De que forma seria possível pressupor uma montagem perversa na estruturação do pacto narcísico da branquitude no Brasil partindo do Amapá, periferia do Brasil, extremo norte do país? Através de pesquisa bibliográfica, propõe-se fomentar debates que deslocam concepções naturalizadas sobre as relações entre os brancos e os negros em nosso país, bem como expor as dimensões estruturais, e por isso políticas que são racistas e as intermediam, evidenciando o mecanismo da perversão como uma das possibilidades para discutir, a partir do ponto de vista da psicanálise, sobre a estrutura racista brasileira.

Biografia do Autor

Gabriel Avelar Teixeira, Estácio de Macapá

Graduado em Psicologia pela Estácio de Macapá. Pós-graduando em Políticas Públicas em Saúde Mental. Acadêmico de Sociologia pela UNIFAP. Membro da ANPSINEP AP. Membro da ABRAPSO AP. Atualmente é Psicólogo Clínico em consultório particular.

Adriele Cardoso Sussuarana, Universidade Federal do Pará (UFPA)

Psicanalista, psicóloga. Mestra em Psicologia Clínica pelo PPGP/UFPA. Atua em Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Adulto-II e no MLA-AP.

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Publicado
2023-08-11