O CONTO A “PRAÇA MAUÁ”, DE CLARICE LISPECTOR: A FILOSOFIA DA DIFERENÇA E O DEVIR NAS MULHERIDADES
Resumo
A literatura do devir é uma potência na desterritorialização dos limites da linguagem que enseja vingar as identidades que em suas experiências (re)criaram suas vias de possibilidades. Destarte, a linguagem literária surge como uma realidade pautada no pensamento deleuziano, como no caso de A via crucis do corpo (1974), de Clarice Lispector. No conto “Praça Mauá”, a ser analisado neste artigo, a autora põe à vista narrativas subversivas do campo das mulheridades ao narrar as experiências literárias da personagem travesti, que é mãe e dona de casa, e da personagem garota de programa, indiferente e extraviada quanto a sua liberdade. Não somente isso, a narrativa elucubra fatos ricos para um estudo literário que considere aspectos basilares para a filosofia da diferença e para os estudos de gênero. Tais estudos se fazem necessários para a compreensão da sociedade, logo, das individualidades, da produção e da recepção literária. Com isso, vemos que o conto pode ser lido como uma narrativa desterritorializante, aqui analisada pelo viés teórico-literário pautado na diferença, conceito defendido por Gilles Deleuze e Felix Guattari (1977). Sob essa perspectiva, pretendemos viabilizar a compreensão de uma epistemologia literária que objete protótipos limitantes das mulheridades sem delimitá-los a um gênero ou sexualidade.
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