LENDO CLARICE LISPECTOR
Resumo
As epifanias de Clarice Lispector permanecem atuais nesses “tempos sombrios”. No presente artigo, apresento trechos significativos de seu romance A paixão segundo G.H. (1998), destacando seu potencial inovador em relação à forma e ao conteúdo. A obra explora os campos instáveis da experiência da mulher e relativiza os limites do “real” quando a protagonista, em puro êxtase e de modo intencional, ingere a massa branca de uma barata. O artigo dialoga com o conceito de dispositivo de Giorgio Agamben (2009) e reflete a respeito da modernização na literatura de Lispector abordada por Ginzburg (2003). Constata-se que, na obra, a realidade é percebida como incompletude e os momentos de epifania levam a outro nível de compreensão da experiência do sensível em que a razão cartesiana é deixada de lado e a linguagem revela opressões culturais na mesma medida em que abre espaço para o novo pela via do estranhamento. Conclui-se no artigo que Lispector, em sua prosa introspectiva, rompe com os sentidos naturalizados através de experimentos linguísticos em que a língua portuguesa é utilizada para propor uma expansão da consciência frente à materialidade, aos corpos e afetos.
Referências
AGAMBEN, Giorgio. O que é o contemporâneo? Tradutor Vinícius Nicastro Honesko. Chapecó: Argos, 2009
ARENDT, Hannah. Homens em tempos sombrios. Tradução Denise Bottman; posfácio Célso Lafer. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
GINZGURG, Jaime. Clarice Lispector e a razão antagônica. In: SCHMIDT, Rita (Org.). A ficção de Clarice: nas fronteiras do (im)possível. Porto Alegre: Editora Sagra Luzzatto, 2003, p. 85-99.
LISPECTOR, Clarice. A paixão segundo G.H. Rio de Janeiro: Rocco, 2020 [1998].
PONTIERI, Regina. Clarice Lispector: uma poética do olhar. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001.
SCHMIDT, Rita (Org.). A ficção de Clarice: nas fronteiras do (im)possível. Porto Alegre: Editora Sagra Luzzatto, 2003.
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