ENSAIO POR UMA POLÍTICA ETNOGRÁFICA DO CONTÁGIO
Resumo
Excertos de relatos de três jovens mulheres compõem a trama deste ensaio em que analiso a experiência do Observatório da Violência de Gênero no Amazonas, programa de extensão da Universidade Federal do Amazonas. Rizonete, Naiara e Janaína atuaram como bolsistas do Observatório e vivenciaram em suas trajetórias experiências de violência intrafamiliar. Refletir sobre o processo de formação e intervenção pública dessas estudantes e sobre o percurso no qual se forjaram antropólogas e feministas, sugere pensar os agenciamentos através dos quais elas construíram rupturas com as relações violentas vivenciadas; o modo como se reivindicaram sujeitos de direitos; e os sentidos atribuídos por elas às suas práticas, aos feminismos e à antropologia. Imiscuída às suas trajetórias por nossas histórias cruzadas, recorro a uma certa literatura antropológica, feminista e decolonial para descrever as condições que tornaram possível postular uma política etnográfica do contágio, o que provoca um radical reposicionamento no campo e a tarefa de redefinição das fronteiras da antropologia e da escrita etnográfica.
Referências
ALMEIDA, A. W. B. Os programas de pós-graduação em antropologia na Amazônia. Rio de Janeiro: ABA Publicações, 2019.
ALMEIDA, M. V. Corpo presente: treze reflexões antropológicas sobre o corpo. Oeiras: Celta Editoras, 1996.
ANZALDÚA, G. Borderlands/La frontera: la nueva mestiza. Madrid: Capitán Swing, 2016.
ANZALDÚA, G. Interviews/Entrevistas. New York: Routledge, 2000.
BEHAR, R. Translated Woman: Crossing the Border with Esperanza's Story. Boston: Beacon Pressa, 2003.
BOURDIEU, P. Esboço de autoanálise. São Paulo, Companhia das Letras, 2005.
BOURDIEU, P. L'illusion biographique. Actes de la recherche en sciences sociales, v. 62-63, p. 69-72, 1986.
CANDOTTI, F. M. Sobre linhas de segmentação “amazônicas”: dispositivos de saber e movimento. Seminário Permanente Gênero e Territórios de Fronteira. Mesa 4 Gênero, Relação e Reconceitualização de Fronteira. Campinas, 2 jun. 2017a.
CANDOTTI, F. M. Algumas ideias para uma analítica descolonial da Amazônia. Seminário Internacional Gênero e Territórios de Fronteira. Campinas, 13 set. 2017b.
CARSTEN, J. A matéria do parentesco. R@U - Revista de Antropologia da UFSCAR, 6 (2), 2014: 103-1182014.
CLASTRES, P. Da tortura nas sociedades primitivas. In: ______. A sociedade contra o estado: pesquisas em antropologia política. São Paulo, Cosac&Naify, 2008.
CORRÊA, M. O mato & o asfalto: campos da antropologia no Brasil. Sociologia & Antropologia, v. 1, n. 1, p. 209-229, 2011.
DAS, V. Fronteiras, violência e o trabalho do tempo: alguns temas wittgensteinianos. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 14, n. 40, p. 31-42, 1999.
DUARTE, L. F. D.; GOMES, E. de. C. Três famílias: identidades, trajetórias transgeracionais nas classes populares. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2008.
EMECHETA, B. No fundo do poço. Porto Alegre: Dublinense, 2019.
EVANS-PRITCHARD, E. E. Algumas Reminiscências e Reflexões sobre o Trabalho de Campo. In: ______. Bruxaria, Oráculos e Magia entre os Azande. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978.
EVARISTO, C. Becos da memória. Belo Horizonte: Mazza, 2006.
FAVRET-SAADA, J. Ser afetado. Tradução de Paula Siqueira. Introdução Márcio Goldman. Cadernos de campo, n. 13, 2005.
GOLDMAN, M. Os tambores dos mortos e os tambores dos vivos. Etnografia, antropologia e política em Ilhéus, Bahia. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 46, n. 2, p.423-444, 2003.
HARAWAY, D. Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial. Cadernos Pagu, n. 5, p. 7-41, 1995.
HOOKS, B. Erguer a voz: pensar como feminista, pensar como negra. São Paulo: Elefante, 2019
INGOLD, T. Temporality of the landscape. In: ______. The Perception of the Environment: essays in livelihood, dwelling and skill. Londres: Routledge, 2000.
INGOLD, T. Trazendo as coisas de volta à vida: emaranhados criativos num mundo de materiais. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, v. 18, n. 37, p. 25-44, 2012.
JESUS, M. C. de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 2014.
KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Editora Cobogó, 2019.
KOFES, S. Uma trajetória, em narrativas. Campinas, SP. Mercado de Letras, 2001.
KOFES, Suely (org) Histórias de vida, biografias e trajetórias. Cadernos do IFCH, Campinas, 2004.
LEACH, E. R. Masquerade: The presentation of the self in holi-day life. Visual Anthropology Review, v. 6, n. 2, p. 2-13, 1990.
LOIS, M. Apuntes sobre los Márgenes: fronteras, fronterizaciones, órdenes socioterritoriales. In: COLOGNESE S. & CARDIN, E. (org.), As ciências sociais nas fronteiras. Cáscavel: JB, 2014, p. 239-261.
MALINOWSKI, B. Um diário no sentido estrito do termo. Rio de Janeiro: Record, 1997.
MARQUES, A. C. D. R.; LEAL, N. S. (Org.). Alquimias do Parentesco. Casas, gentes, papéis, territórios. 1. ed. Rio de Janeiro: Gramma/Terceiro Nome, 2018.
MELO, F. Cadastrar, incluir e proteger. As malhas da proteção social na fronteira Amazônia. Tese de doutorado (Antropologia Social). Universidade de São Paulo, São Paulo, 2020.
MELO, F. Mover-se nas fronteiras: percursos, políticas e saberes transfronteiriços. R@U: Revista de Antropologia Social da UFSCAR, v. 11, p. 599-622, 2019.
MELO, F. & REIS, R.O.B. Antropologia na fronteira & fronteiras da Antropologia: experiências de ensino, pesquisa e extensão universitária em uma região transfronteiriça. Anuário Antropológico, no prelo.
MELO, F.; SILVA, J. L.; FLISTER, S. Anais do Seminário Violência e Gênero no Amazonas. Manaus, EDUA, 2016.
MEZZADRA, S.; NEILSON, B. La frontera como método. Madrid: Traficantes de Sueños, 2017.
NADER, L. Ethnography as theory. HAU: Journal of Ethnographic Theory 1 (1), pp.211 - 219, 2011.
NASCIMENTO, S. S. O corpo da antropóloga e os desafios da experiência próxima. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 62, p. 459-484, 2019.
PADOVANI, N. C. Tráfico de mulheres nas portarias das prisões ou dispositivos de segurança e gênero nos processos de produção das ‘classes perigosas’. Cadernos Pagu, Campinas, n. 51, 2017.
PEIRANO, M. A favor da etnografia. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1995.
RAGO, M. A aventura de contar-se: feminismos, escrita de si e invenções da subjetividade. Campinas: Unicamp, 2013.
RIVOAL, I; SALAZAR, N. B. Contemporary ethnographic practice and the value of serendipity. Social Anthropology, v. 21, n. 2, p. 178-185, 2003.
ROSALDO, R. Aflicción e ira de un cazador de cabezas. In: Cultura y verdad. La reconstrucción del análisis social. Quito: Ediciones Abya-Yala, 2000.
SIMIÃO, D. As donas da palavra: gênero, justiça e invenção da violência doméstica em Timor-Leste. Brasília: Editora UNB, 2015.
SOUZA, R. De pesquisadora a sujeito da pesquisa: como ser uma sem ser outra. Trabalho de Conclusão de Curso. (Graduação em Antropologia) - Universidade Federal do Amazonas, 2014.
SPIVAK, G. Pode o subalterno falar? Trad. Sandra Regina Goular Almeida, Marcos Pereira Feitosa, André Pereira Feitosa. Belo Horizonte: UFMG, 2010.
STRATHERN, M. O efeito etnográfico e outros ensaios. São Paulo: Cosac Naify, 2017.
VELHO, O. G. Mais realistas do que o rei: ocidentalismo, religião e modernidades alternativas. Rio de Janeiro, Topbooks, 2007.
VIANNA, A. O fazer e o desfazer dos direitos: experiências etnográficas sobre política, administração e moralidades. Rio de Janeiro: E-papers, 2013.
VIEIRA, J.M. Bacharelado em antropologia em Benjamin Constant, Amazonas. In: TAVARES, Fátima et al. Experiências de ensino e prática em Antropologia no Brasil. Brasília/DF: Ícone Gráfica e Editora, 2010.
A submissão de originais para este periódico implica na transferência, pelos autores, dos direitos de publicação impressa e digital. Os direitos autorais para os artigos publicados são do autor, com direitos do periódico sobre a primeira publicação. Os autores somente poderão utilizar os mesmos resultados em outras publicações indicando claramente este periódico como o meio da publicação original. Em virtude de sermos um periódico de acesso aberto, permite-se o uso gratuito dos artigos em aplicações educacionais, científicas, não comerciais, desde que citada a fonte (por favor, veja a Licença Creative Commons no rodapé desta página).