YVYTU, O SOPRO DA TERRA: COMO A LÍNGUA GUARANI MBYÁ SE FAZ TERRITÓRIO

Palavras-chave: Língua. Guarani Mbyá. Território. Ontologia relacional.

Resumo

Em cursos de extensão universitária na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 2017 e 2018, o professor Verá Tupã, do povo Guarani Mbyá, relacionou saberes linguísticos a eventos presentes em narrativas e experiências na sua aldeia. Tal procedimento configura o que o filósofo argentino Rodolfo Kusch (2007) explica como saber que vem de dentro, presente nas línguas indígenas pela tendência a manifestar acontecimentos mais do que coisas. De modo semelhante, em recente publicação do mito fundador guarani, Yvyrupa, a terra uma só (2017), por Timóteo Verá Tupã Popygua, a recorrência da palavra-partícula “yvy” (terra) na nomeação do existente aponta para o valor cosmológico e político do território sem fronteiras. As aulas e o livro manifestam a “ontologia relacional” (ESCOBAR, 2014), considerando as intensas inter-relações dos seres e dos mundos, experimentadas a partir de um lugar. Como populações subalternizadas cujos territórios seguem ameaçados por projetos neocoloniais extrativistas, são afetadas tanto suas condições de existir, como o direito à expressão de sua cosmovisão (LENKERSDORF, 1998). Mesmo assim, os Guarani Mbyá (re)afirmam em suas práticas e criações a sacralidade da palavra e a terra enquanto bem comum. 

Biografia do Autor

Ana Lúcia Liberato Tettamanzy, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) / Professora Associada

Possui graduação em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1988), Mestrado (1993) e Doutorado (1999) em Letras - Área Literatura Brasileira pela mesma Universidade. É professora do Instituto de Letras e do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tem experiência em ensino e pesquisa com ênfase nos seguintes temas: narrativa oral, interculturalidade, pós-colonialismo,  decolonialidade, poéticas da voz. Participou de 2013 a 2019 como docente colaboradora da Ação "Saberes Indígenas na Escola- Grupo UFRGS", financiada pelo Ministério da Educação, e desde a criação em 2016 da disciplina Encontro de Saberes/UFRGS, em que Mestres e Mestras de matrizes negras e indígenas conduzem prática interepistêmica e colaborativa. Organizou em coautoria o livro Lugares de fala, lugares de escuta nas literaturas africanas, ameríndias e brasileira (2018).

 

Referências

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Publicado
2021-01-21