MERCADO DA #SAÚDE E DO #CORPO NO INSTAGRAM: MODULAÇÃO DA SUBJETIVIDADE NA SOCIEDADE DE CONTROLE

Angélica Teixeira da Silva Leitzke; Luiz Carlos Rigo

Angélica Teixeira da Silva Leitzke Universidade Federal de Pelotas https://orcid.org/0000-0002-0458-6948
Luiz Carlos Rigo Universidade Federal de Pelotas https://orcid.org/0000-0001-9586-0182

Palavras-chave: Saúde. Sociedade de Controle. Redes Sociais na Internet. Subjetividade.

Resumo

Tendo como referência a noção deleuziana de sociedade de controle, objetivou-se nesse artigo analisar texto e imagem de publicações comerciais do Instagram, com as hashtags #saúde e #corpo. Utilizou-se para extração das publicações o site Netlytic e para seleção do recorte analisado o software LibreOffice Calc. Como metodologia, utilizou-se a análise do discurso de perspectiva foucaultiana. Os resultados apontaram para uma predominância de práticas discursivas médico-científicas, com linguagem técnica e interpelativa. No entanto, assinalam também a emergência de enunciados diversificados, possivelmente vinculados a novas práticas discursivas sobre saúde. Conclui-se que essas práticas discursivas presentes no Instagram se articulam a práticas não-discursivas de modulação, produzindo modos de subjetivação objetivados a partir de uma racionalidade de mercado, que se dissemina de forma rizomática em “multimundos” ciberdigitais de consumo sobre #saúde, #corpo, #bemestar, #beleza e #boaforma. Estratégias de governo dos vivos na sociedade de controle.

Biografia do Autor

Angélica Teixeira da Silva Leitzke, Universidade Federal de Pelotas

Doutora em Educação Física pela Universidade Federal de Pelotas. Servidora técnico-administrativa na Universidade Federla de Pelotas.

Luiz Carlos Rigo, Universidade Federal de Pelotas

Doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas. Professor Titular na Escola Superior de Educação Física - ESEF da Universidade Federal de Pelotas - UFPEL.

Referências

ALVES, Marcelo. Abordagens da coleta de dados nas mídias sociais In: SILVA, Tarcízio; STABILE, Max (orgs.). Monitoramento e Pesquisa em Mídias Sociais: metodologias, aplicações e inovações. São Paulo: Uva Limão, 2016. p. 67-87.

AMARAL, Augusto Jobim do. Biopolítica e Biocapitalismo: implicações da violência do controle. Veritas, v. 63, n. 2, p. 515-543, 2018.

ANDRADE, Sandra dos Santos. Saúde e beleza do corpo feminino: Algumas representações no Brasil do Século XX. Movimento, Porto Alegre, v. 9, n. 1, p. 119-143, 2003.

ANTOUN, Henrique. Perspectiva histórica de uma tela à outra: a explosão do comum e o surgimento de uma vigilância participativa. In: ______(org.). Web 2.0: Participação e vigilância na era da comunicação distribuída. Rio de Janeiro: Mauad X, 2008. p. 7-9.

ASSOCIATION OF INTERNET RESEARCHERS. Internet Research: Ethical Guidelines 3.0. AOIR, 2020. Disponível em: <https://aoir.org/reports/ethics3.pdf>. Acesso em: 27 abr. 2020.

AVELINO, Nildo. Foucault e a anarqueologia dos saberes. In: FOUCAULT, Michel. Do governo dos vivos: Curso no Collège de France, 1979-1980 (aulas de 09 e 30 de janeiro de 1980). São Paulo: Centro de Cultura Social, 2011.

BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadorias. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

BRASIL. Lei n. 9610, de 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. Lei de Direitos Autorais, Brasília, fev. 1998. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9610.htm>. Acesso em: 25 mai. 2020.

BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 510, de 7 de abril de 2016. Diário Oficial União, Brasília, DF, 24 maio 2016. Seção 1. p. 44-46. Disponível em: <http://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/2291758>. Acesso em: 25 mai. 2020.

BRITTOS, Valério Cruz; GASTALDO, Édson Luis. Mídia, Poder e Controle Social. ALCEU, Rio de Janeiro, n. 13, v. 7, p. 121-133, jul. 2006.

CARRERA, Fernanda. Instagram no facebook: uma reflexão sobre ethos, consumo e construção de subjetividade em sites de redes sociais. Revista interamericana de comunicação midiática, v. 11, n. 22, p. 148-165, 2012.

CASSINO, João Francisco. Modulação deleuzeana, modulação algorítmica e manipulação midiática. In: SOUZA, Joyce; AVELINO, Rodolfo; SILVEIRA, Sérgio Amadeu da (orgs.). A sociedade de Controle: Manipulação e modulação nas redes digitais. São Paulo: Hedra, 2018. p. 13-29.

CASTRO, Edgardo. Vocabulário de Foucault. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009.

CHEVITARESE, Leandro; PEDRO, Rosa Maria Leite Ribeiro. Da sociedade disciplinar à sociedade de controle: a questão da liberdade por uma alegoria de Franz Kafka, em O Processo, e de Phillip Dick, em Minority Report. Revista do Programa de Pós-graduação em Sociologia da UFPE, v. 8, n. 1/2, p. 129-162, 2005.

CHIGNOLA, Sandro. A vida, o trabalho, a linguagem: Biopolítica e biocapitalismo. Cadernos IHU ideias, v. 13, n. 228, ano 13, p. 3-19, 2015.

COSTA, Rogério da. Sociedade de Controle. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 18, n. 1, p. 61-67, jan./mar. 2004.

DELEUZE, Gilles. Conversações: 1972-1990. Rio de Janeiro: Editora 34, 1992.

______. Foucault. São Paulo: Brasiliense, 2005.

FERNANDES, Ana Carolina Machado. Eu sou o que como: As Musas do Instafit e a adoção de novos hábitos alimentares para a construção do corpo sarado. In: VIII Encontro Nacional De Estudos Do Consumo, IV Encontro Luso-Brasileiro De Estudos Do Consumo, II Encontro Latino-Americano De Estudos Do Consumo. Comida e alimentação na sociedade contemporânea. Anais… 2016. p. 1-18.

FISCHER, Rosa Maria Bueno. Televisão e Educação: Fruir e pensar a TV. 4 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.

FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso: Aula inaugural no Collège de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970. São Paulo: Edições Loyola, 1996.

______. As Palavras e as Coisas. 8 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

______. Ditos e Escritos IV: Estratégia, Poder-Saber. 2 ed. Rio de Janeiro: Forence Universitária, 2006.

______. Nascimento da biopolítica: curso dado no Collège de France (1978-1979). São Paulo: Martins Fontes, 2008a.

______. Arqueologia do Saber. 7 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008b.

______. Do governo dos vivos: Curso no Collège de France, 1979-1980 (aulas de 09 e 30 de janeiro de 1980). São Paulo: Centro de Cultura Social, 2011.

______. Microfísica do Poder. 4 ed. Graal, 2016.

FRAGA, Alex Branco. Exercício da informação: governo dos corpos no mercado da vida ativa. Campinas: Autores Associados; 2006.

HARAWAY, Donna J. Manifesto ciborgue: Ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX. In: TADEU, Tomaz (org.). Antropologia do ciborgue: as vertigens do pós-humano. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009. p. 33-117.

HARDT, Michael. A sociedade mundial de controle. In: ALLIEZ, Eric (org.). Gilles Deleuze: uma vida filosófica. São Paulo: Editora 34, 2000.

HU, Yuheng; MANIKONDA, Lydia; KAMBHAMPATI, Subbarao. What we Instagram: a first analysis of Instagram photo content and user types. Proceedings of the Eighth International AAAI Conference on Weblogs and Social Media, Arizona, p. 595-598, 2014.

LAZZARATO, Maurizio. As revoluções do capitalismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.

LEITZKE, Angélica Teixeira da Silva; RIGO, Luiz Carlos; KNUTH, Alan Goularte. Estratégias biopolíticas de construção do corpo e vigilância da saúde: o caso ‘‘Medida Certa’’. Revista Brasileira de Ciência do Esporte, v. 42, p. 1-8, 2020.

OLIVEIRA, Alexandre Palma de et al. Culto ao corpo e exposição de produtos na mídia especializada em estética e saúde. Movimento, Porto Alegre, v. 16, n. 01, p. 31-51, 2010.

PELBART, Peter Pál. Vida Capital: ensaios de biopolítica. São Paulo: Iluminuras, 2003.

RABELO, José Orlando Carneiro Campello. Mídia como dispositivo de saber/poder. REVISTA SÍSIFO, v. 1, p. 35-47, 2017.

RECUERO, Raquel; BASTOS, Marco; ZAGO, Gabriela. Análise de redes para mídia social. Porto Alegre: Editora Sulina, 2015.

SILVEIRA, Sérgio Amadeu da. A noção de modulação e os sistemas algorítmicos. In: SOUZA, Joyce; AVELINO, Rodolfo; SILVEIRA, Sérgio Amadeu da (orgs.). A sociedade de Controle: Manipulação e modulação nas redes digitais. São Paulo: Hedra, 2018. p. 31-46.

SILVEIRA, Viviane Teixeira; RIGO, Luiz Carlos. O programa passaporte biológico: considerações sobre o governo dos atletas. Movimento, Porto Alegre, v. 21, n. 2, p. 495-506, abr./jun. 2015.

SOARES, Carmen Lúcia. Imagens da Educação no Corpo. 2 ed. Campinas: Autores Associados, 2002.

SOUZA, Joyce; AVELINO, Rodolfo; SILVEIRA, Sérgio Amadeu da. Introdução. In: ______; ______; ______ (orgs.). A sociedade de Controle: Manipulação e modulação nas redes digitais. São Paulo: Hedra, 2018. p. 13-29.

VENTURINI, Ivana Vedoin et al. Musas fitness e a tríade corpo-consumo-felicidade. Movimento, Porto Alegre, v. 26, e26003, p. 1-20, 2020.

VILELA, Eugénia. Resistência e acontecimento. As palavras sem centro. In: GANDRA, Jose; KOHAN, Walter. (orgs.). Foucault 80 anos. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. p. 107-127.

ZANDAVALLE, Ana Cláudia. Análise de dados visuais no Instagram: Perspectivas e aplicações. In: SILVA, Tarcízio; BUCKSTEGGE, Jaqueline; ROGEDO, Pedro (orgs.). Estudando cultura e comunicação com mídias sociais. Brasília: IBPAD, 2018. p. 80-96.