DEUS NO COMANDO: UMA ANÁLISE DO DISCURSO “NARCOPENTECOSTAL”

Palavras-chave: Análise do Discurso. Narcopentecostal. [neo]Pentecostalismo. Enunciação Jornalístico-Midiática. Intolerância Religiosa.

Resumo

O presente artigo examina o embate, no interior da enunciação jornalístico-midiática, em torno da etiqueta discursiva “narcopentecostal”, que rotula um “novo” cenário entre a prática do proselitismo e a intolerância religiosa. Visa-se verificar as condições de enunciabilidade da palavra “narcopentecostal” em notícias sobre a intolerância religiosa contra religiões de matriz africana. Um quadro teórico-metodológico interdisciplinar constituído pelos estudos nos campos da Antropologia, da Religião e da Análise do Discurso fundamenta a presente discussão. Como corpus de análise, aproximamos cinco enunciados que materializam o neologismo “narcopentecostal” como forma de nomear grupos de traficantes armados que destroem terreiros de umbanda e candomblé. Os resultados indicam que a etiqueta “narcopentecostal” desvela o embate histórico entre posicionamentos discursivos no campo religioso. As questões político-religiosas e o avanço do [neo]Pentecostalismo no Brasil e sua imersão pragmática em contextos periféricos ganham espaço nos debates sociais, substanciando um novo capital midiático.

Biografia do Autor

Anderson Ferreira, Universidade Federal do Espírito Santo

Doutor em Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Pós-doutorando no Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES-PPGEL), com bolsa CAPES/PNPD.

Carlos Aberto Baptista, Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)

Doutorando em Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com bolsa CAPES.

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Publicado
2021-01-25