REFLEXÕES SOBRE AFRONECROTRANSFOBIA: POLÍTICAS DE EXTERMÍNIO NA PERIFERIA
Resumo
Neste artigo é realizada uma problematização da articulação entre racismo e transfobia vivenciados por pessoas negras transexuais e travestis, estabelecendo um diálogo entre Sueli Carneiro e Achille Mbembe, e as transfeministas negras Megg Rayara Gomes de Oliveira e Jaqueline Gomes Jesus. Com objetivo de, a partir de cuidadosas contextualizações, entender a relação entre dar a vida/biopolítica e promover a morte/necropolítica como técnicas de governabilidade das existências trans negras é apresentada uma autoetnografia. Para compreender os entrecruzamentos de tais eixos de discriminações, a proposta metodológica é a interseccionalidade (CRENSHAW, 2002), pois, além de propor ampliação nas possibilidades de diálogos entre diversas áreas do conhecimento, possibilita um debate para além da hierarquização de opressões, buscando captar e analisar as singularidades que se estabelecem em cada experiência. Destaco finalmente a potência desestabilizadora das micro-resistências estabelecidas por pessoas negras trans diante dos discursos hegemônicos no estado de Goiás.
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