(IM)PROVÁVEIS PRESIDENTES DO BRASIL: UMA ANÁLISE DAS IMAGENS DE SI NOS PRONUNCIAMENTOS DE POSSE DOS PRESIDENTES LULA E BOLSONARO
Resumo
O principal objetivo da presente análise é investigar, via noção de ethos discursivo, como foram mobilizadas e construídas as imagens de si através dos pronunciamentos de posse presidencial dos presidentes Luís Inácio Lula da Silva (2003) e Jair Messias Bolsonaro (2019). Para tal empreitada, nos ancoramos no arcabouço teórico cunhado por Patrick Charaudeau (2011), mais precisamente sobre as considerações a respeito do ethos no discurso político. Segundo o autor “não existe um ato de linguagem que não passa pela construção de uma imagem de si” (CHARAUDEAU, 2017, p. 86). Ou seja, o que falamos revela, em certa medida, uma imagem do que somos (ou do que transparecemos ser). Tentaremos estabelecer relações com os conceitos de Pêcheux (2010, 2011) e de Orlandi (2005), no sentido de apresentar que não existe ingenuidade no dizer ou muito menos que esse é gestado no vazio. Por fim, cotejamos as aproximações e distanciamentos de ambos os pronunciamentos. Vemos que mesmo, a título de exemplo, quando ambos os presidentes falam a respeito do “combate à corrupção”, os efeitos de sentidos são distintos, ainda mais quando levamos em consideração as condições de produção de cada um dos pronunciamentos.
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