“AS CRIANÇAS COMEÇAVAM A LER E EU FALAVA NÃO FUI EU QUE ENSINEI”: ESTUDO DE CASO SOBRE A ALFABETIZAÇÃO NO ENSINO REMOTO EMERGENCIAL
Resumo
Este artigo objetiva analisar as implicações do ensino remoto emergencial sobre o processo de alfabetização de crianças na rede pública de ensino, tendo em vista a relação entre educação e tecnologia no contexto histórico vigente. Para tanto, realizou-se um estudo de caso por meio de entrevistas semiestruturadas, concedidas por professoras alfabetizadoras que atuaram durante o primeiro ano de pandemia de COVID-19 no Brasil em turmas do Ensino Fundamental. Fundamentando-se no referencial epistemológico da Teoria Crítica da Sociedade e na dialética negativa como metodologia de análise crítica do objeto, identifica-se a predominância da razão instrumental no ensino remoto emergencial, cuja relação reificada entre educação e tecnologia passou a caracterizá-lo como um mecanismo de manutenção do status quo social, de perpetuação das desigualdades estruturais da sociedade de classes e, enfim, de alastramento da semiformação como forma de socialização hegemônica no capitalismo tardio.
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