A ADOÇÃO DO LIVRO DIDÁTICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA POLÍTICA DE SUBJETIVAÇÃO PRECOCE PARA O MERCADO DE TRABALHO
Resumo
Este artigo buscou compreender as relações de poder e as práticas pedagógicas envolvidas na política de escolha de livros didáticos para a educação infantil que, a princípio, vai na contramão do que os estudos sobre a infância, as leis e as diretrizes preconizam. Trata de uma etapa em que as experiências de socialização e brincadeiras devem ser priorizadas, ao invés de tentar transformar a criança em aluno precocemente. Esta pesquisa qualitativa de revisão bibliográfica abordou o livro didático e o currículo a partir da perspectiva histórica das relações de poder que visam subjetivar e governar a infância por meio de saberes voltados para um ideal de criança. Conclui-se que a inserção do livro didático em grupos de pré-escola antecipa o processo de escolarização, descaracterizando as peculiaridades desta etapa do desenvolvimento humano. Isso, por si só, já apresenta sérios riscos constitucionais à criança enquanto sujeito de direitos e histórico.
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