INTERCULTURALIDADES MESPTIANAS: RELATO DA EXPERIÊNCIA DO MESTRADO EM SUSTENTABILIDADE JUNTO A POVOS E TERRITÓRIOS TRADICIONAIS, BRASIL

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Resumo

O texto descreve a experiência brasileira do Mestrado em Sustentabilidade junto a Povos e Territórios Tradicionais (PPG PCTs-MESPT), uma iniciativa pioneira para a formação, em nível de pós-graduação, de profissionais indígenas, quilombolas, sujeitos oriundos de outros contextos comunitários - no Brasil, abarcados pela categoria Povos e Comunidades Tradicionais (PCTs) - além de profissionais aliadas, sem origem comunitária, que atuam junto a PCTs, em posições institucionais diversas (órgãos do poder executivo e judiciário, organizações da sociedade civil e movimentos sociais). O curso visa à formação de profissionais para o desenvolvimento de pesquisas e intervenções sociais em prol do exercício de direitos, do fortalecimento de processos autogestionários da vida, do território, do ambiente biofísico e de seus bens naturais, da valorização da sociobiodiversidade e salvaguarda do patrimônio cultural (material e imaterial) de PCTs. Este programa de pós-graduação aposta na abertura da universidade para sujeitos originários de povos e comunidades tradicionais, em um espaço considerado por excelência o lugar da produção de conhecimento acadêmico: a pós-graduação. A expectativa é de que formados como pesquisadores, esses sujeitos estejam habilitados a fazerem os trânsitos entre diferentes sistemas de conhecimento e, a partir deles, as seleções e combinações que entenderem prudentes e convenientes. Vale lembrar que a pós-graduação é também o locus mais alto na escala de prestígio da universidade e, portanto, o mais refratário a experimentações e proposições de inclusão social. Então, há algo de potencialmente revolucionário no alçamento desses sujeitos a esse espaço - desde que isso se faça sem a sua total submissão às formas de pensar e fazer da Academia, mas com abertura para experimentações que vão da reinvenção das formas de seleção, de fazer pesquisa e de reconhecer autorias, inclusive, aquelas coletivas.

Biografia do Autor

Cristiane de Assis Portela, Universidade de Brasília (UnB)

Docente do Departamento de História da UnB, é Doutora em História pela Universidade de Brasília (UnB, 2011), Mestre em História pela Universidade Federal de Goiás (UFG, 2006) e Graduada em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG, 2003). É coordenadora institucional do Programa de Iniciação à Docência (PIBID) da Universidade de Brasília desde fevereiro de 2021 e é a atual coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade junto a Povos e Territórios Tradicionais- MESPT UnB, na gestão de 2021 a 2023.

Stéphanie Caroline Nasuti, Universidade de Brasília (UnB)

Professora Adjunta do Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS) da Universidade de Brasília Doutorado em Géographie, Aménagement, Urbanisme.
Institut de Hautes Éstudes de l'Amérique Latine, IHEAL, França,  Mestrado em Etude des sociétés latino-américaines.
Institut de Hautes Éstudes de l'Amérique Latine, IHEAL, França, Graduação em Sciences de la communication et de l'information.
Institut de la Communication et des Médias - Université Stendhal Grenoble 3, ICM, França

Mônica Celeida Rabelo Nogueira, Universidade de Brasília (UnB)

Doutora em Antropologia Social e professora associada da Universidade de Brasília, Mestrado em Desenvolvimento Sustentável. Graduação em Antropologia Social.
Universidade de Brasília, UnB, Brasil. Universidade de Brasília, UnB, Brasil. É docente dos programas de pós-graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural (PPG-Mader) e em Desenvolvimento Sustentável (PPG-CDS), vice-presidente da Câmara de Direitos Humanos da Universidade de Brasília (CDHUnB) e secretária de Comunicação (Secom) da UnB.

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Publicado
2024-04-22