MOVIMENTOS DECOLONIAIS NAS AULAS DE LÍNGUA INGLESA: UMA PROPOSTA DE PERCURSO DIDÁTICO SOBRE O “DIA DO ÍNDIO”
Resumo
Este estudo problematiza o percurso didático (SABOTA, 2017) idealizado por mim e implementado nas aulas de língua inglesa do 8º ano de uma escola particular situada em Goiânia-GO. Naquela ocasião, o “dia do índio” serviu como brecha (DUBOC, 2012) para que pudéssemos discutir de que maneiras essa data ressuscita discursos racistas a cada ano em que é celebrada de modo acrítico e apolítico no dia 19 de abril. Numa tentativa de interromper essa prática colonial nas aulas de língua inglesa e, em alguma medida, ressignificá-la, propus que as/os discentes pensassem na(s) realidade(s) dos povos indígenas que habitam o outro lado das Américas, mais especificamente o território estadunidense, e trabalhassem colaborativamente ao longo de quatro aulas, com base nos seguintes tópicos: language, Cristopher Columbus, reservation e thanksgiving. As frentes epistemológicas que guiam o estudo são o pensamento decolonial (BORELLI, 2018; GROSFOGUEL, 2010, 2013; MALDONADO-TORRES, 2007; QUIJANO, 2005) e as perspectivas críticas na educação linguística (FABRÍCIO, 2006; MOITA LOPES, 2006; PENNYCOOK, 2001, 2006, 2012; PESSOA; URZÊDA-FREITAS, 2012, 2014). Compreendo, por conseguinte, que essas epistemologias e a iniciativa de mobilizá-las em aulas de língua inglesa se apresentam como possibilidades viáveis para a problematização e a rearticulação de discursos racistas que contribuem para natualizar e validar injustiças sociais contra os diferentes povos indígenas que vivem nas Américas.
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