DESSACRALIZANDO OS FESTIVAIS DE CINEMA: UMA REVISÃO ACERCA DO BINARISMO ENTRE O CINEMA HOLLYWOODIANO E OS FILMES DE FESTIVAIS
Resumo
Alguns autores, como Marijke De Valck (2007a; 2007b) e Thomas Elsaesser (2005), por exemplo, têm demonstrado em seus trabalhos que a aliança entre a indústria norte-americana e os festivais se manifesta desde o nascimento dos segundos. O presente artigo, ao levar tais estudos em consideração, busca uma abordagem comparativa entre o modus operandi do cinema Hollywoodiano e as estratégias adotadas pelos festivais de cinema para legitimação e sucesso dos filmes que ali circulam. Nossa proposta pode ser vista como uma tentativa de dessacralizar os festivais de cinema, uma vez que acreditamos que a contraposição ao cinema hollywoodiano é, talvez, o ponto que torna o tratamento dos festivais por parte dos pesquisadores enquanto um fetichismo, fazendo com que sejam ignoradas as naturezas política e econômica latentes dos festivais de cinema, e se opere através da idealização de uma superioridade artística em oposição à/ao massificação/aspecto. Investigamos as estratégias político-discursivas para agregar valor e obter sucesso comercial, assim constituindo os Festival Hits equivalentes aos blockbusters norte-americanos. Não queremos igualar o cinema hollywoodiano aos filmes de festivais, afinal, eles se mostram opostos em termos de conteúdo/forma, porém similares, e até mesmo articulados, em termos de estratégias comerciais.
Referências
BAZIN, André. La Politique des Auteurs. Paris: Cahiers du Cinéma, nº 70, April, 1957.
BONO, Francesco. La Mostra del Cinema di Venezia: nascita e sviluppo nell’anteguerre (1932-1939), Storia Contemporanea, vol. 22, n. 3, pp. 513-549, 1991.
BOURDIEU, Pierre. A Distinção: crítica social do julgamento. Porto Alegre, Zouk, 2007.
BUSCOMBE, Edward. Ideias de autoria. In: RAMOS, Fernão Pessoa (Org.). Teoria contemporânea do cinema. Vol. 1. São Paulo: Senac, 2004.
CASTANHEIRA, José Cláudio Siqueira. A paisagem sonora eletrônica: a construção de novas audibilidades no cinema. 2010. 202 f. DISSERTAÇÃO (Mestrado em Comunicação) - Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2010.
CROWDUS, Gary. Capitalismo Americano e Cinema Hollywoodiano. In: HENNEBELLE, Guy. Os Cinemas Nacionais Contra Hollywood. Tradução de Paulo Vidal e Julieta Viriato de Medeiros – Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
E VALCK, Marijke. As várias faces dos festivais de cinema europeus. In: MELEIRO, ALESSANDRA (Org.). Cinema no mundo: indústria, política e mercado (Vol. V, Europa). São Paulo: Escrituras, 2007a, p. 215-235.
DE VALCK, Marijke. Film festivals: from european geopolitics to global cinephilia. Amsterdam: Amsterdam University Press, 2007b.
DE VALCK, Marijke; LOIST, Skadi; KREDELL, Brendan. Film festivals: history, theory, method, practice. United Kingdom: Routledge, 2016.
DUSSEL, Enrique. 20 teses sobre política. São Paulo: Expressão popular, 2007
ELSAESSER, Thomas. European Cinema: Face to Face with Hollywood. Amsterdam: Amsterdam University Press, 2005.
FLÔRES, Virginia Osorio. “Além dos Limites do Quadro”: O som a partir do Cinema Moderno. 2013. 213 f. Tese (Doutorado em Multimeios) - Programa de Pós-Graduação em Multimeios do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2013.
HARVEY, David. O Novo Imperialismo. 8. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2014.
HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos: O breve século XX. São Paulo: Companhia das Letras,1995.
KUROSAWA, Akira. Relato Autobiográfico. São Paulo: Estação Liberdade, 1990.
MARX, Karl. A assim chamada acumulação primitiva do Capital. _________. O Capital: Crítica da economia política: livro 1. São Paulo: Boitempo, 2017, p. 785-834.
PROKOP, Dieter. A Estrutura Monopolista Internacional da Produção Cinematográfica. In: FILHO, Ciro Marcondes (org.). Dieter Prokop: Sociologia. São Paulo: Ática, 1986, p. 28-42.
ROSS, Miriam. Cinema Sul-Coreano: relação com os mercados internacionais. In: MELEIRO, ALESSANDRA (Org.). Cinema no mundo: indústria, política e mercado (Vol. III Ásia). São Paulo: Escrituras, 2007, p. 17-23.
STRINGER, Julian. Global Cities and the International Film Economy. In: FITZMAURICE, TONY; SHIEL, Mark (Org.). Cinema and the City: Film and Urban Societies in a Global Context. United States of America: Wiley-Blackwell, 2001.
VALLEJO, Aida; LEÃO, Tânia. Introdução: festivais de cinema e os seus contextos socioculturais. Revista Portuguesa da Imagem em Movimento (ANIKI), Portugal, v. 8, n. 1, p. 80-100, jan. 2021.
VIANA, Nildo. As formas de assistir um filme. In: _______. Como assistir um filme? Rio de Janeiro: Editora Corifeu, 2009.
WASKO, Janet. Por que Hollywood é Global? In: MELEIRO, ALESSANDRA (Org.). Cinema no mundo: indústria, política e mercado (Vol. IV Estados Unidos). São Paulo: Escrituras, 2007, p. 29-50.
A submissão de originais para este periódico implica na transferência, pelos autores, dos direitos de publicação impressa e digital. Os direitos autorais para os artigos publicados são do autor, com direitos do periódico sobre a primeira publicação. Os autores somente poderão utilizar os mesmos resultados em outras publicações indicando claramente este periódico como o meio da publicação original. Em virtude de sermos um periódico de acesso aberto, permite-se o uso gratuito dos artigos em aplicações educacionais, científicas, não comerciais, desde que citada a fonte (por favor, veja a Licença Creative Commons no rodapé desta página).