INTERSECCIONALIDADE EM SPIVAK E LÉLIA GONZALEZ: A SUBALTERNIDADE QUE PENSA, FALA E PRODUZ “NUMA BOA”

Palavras-chave: Spivak. Gonzalez. Interseccionalidade. Subalternidade. Intelectual Negra.

Resumo

Este artigo baseado em revisão e análise bibliográfica, trata de explicitar um possível diálogo acerca da subalternidade e interseccionalidade, bem como, do papel da intelectual em Spivak e Lélia Gonzalez.  O diálogo sobre a interseccionalidade entre as duas autoras visa responder ao seguinte problema: como a compreensão da interseccionalidade entre Spivak e Gonzalez pode nos possibilitar entender a importância de uma intelectual negra e subalternizada, enquanto condição, que pensa, fala e produz seu próprio arcabouço teórico? Problematizamos a relevância de Lélia Gonzalez na efetivação da fala de uma intelectual, estando ela em uma posição de subalternidade, uma vez que se encontra atravessada entre os recortes de raça, gênero, sexo e classe. Esteticamente discutimos duas seções: Spivak e o sujeito subalterno feminino; e, Gonzalez, racismo, sexismo e o desvelar da história e formação social brasileira. Consideramos que não cabe ao intelectual falar pelo subalterno, muito menos criar condições de fala próprias para o subalterno, nem deve se colocar em suposta neutralidade. Gonzalez é um exemplo de que a intelectual pode falar e criar sua própria epistemologia e práxis social e política, apesar das condições serem de silenciamento das minorias.

Biografia do Autor

Ana Caroline Amorim Oliveira, Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

Professora Adjunto III da Universidade Federal do Maranhão-UFMA. Professora Permanente do Programa de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade-Pgcult (UFMA).  Líder do Grupo de Pesquisa Epistemologia da Antropologia, Etnologia e Política (CNPQ). Membro do Coletivo Mururu/Rede (CO)Vida- Rede de Mapeamento da Pandemia de Covid-19 entre os povos indígenas no Maranhão. Membro efetivo da Associação Brasileira de Antropologia -ABA, da Associação Portuguesa de Antropologia-APA e Membro da Salsa- Society for the Anthropology of Lowland South America. Compõe o Grupo de Trabalho Índios na História da ANPUH-Seção Maranhão. 

Alipio Felipe Monteiro dos Santos, Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

Licenciado em Ciências Humanas, com habilitação em História, pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA); possuo especialização em História e Cultura Afro-brasileira; Mestre em Cultura e Sociedade (PGCult-UFMA). Membro do grupo de pesquisa Epistemologia da Antropologia (UFMA), e Cosmopolítica e Relação Natureza/Cultura (UFMA). Atualmente, sou professor efetivo de História na Secretaria de Educação (SEMED) de Salvaterra-PA. Contenho interesses por pesquisas em comunidades quilombolas e na temática das relações afroindígenas, com foco na Amazônia Legal, em especial a Amazônia Legal Maranhense e Baixada Maranhense, por meio de investigação interdisciplinar compreendendo estudos da história cultural, micro-história, história oral, etnologia, memória, identidade e etnogênese, do paternalismo como forma de dominação e como relações memórico-afetivas, dos lugares de memória, da Cultura Afro-brasileira e afroindígena e estudos culturais em geral.

Otávio Oliveira Silva, Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

Professor efetivo de História da Secretaria de Educação de Salvaterra-PA. Mestre em Cultura e Sociedade PGCult  (UFMA), na Linha de Pesquisa Cultura, Educação e Tecnologia. Especialista em História e Cultura Afro-Brasileira e integrante do grupo de pesquisa Epistemologia da Antropologia, Etnologia e Política(Cnpq).

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Publicado
2022-01-28