TRABALHO DO CUIDADO NO CONTEXTO CAPITALISTA CONTEMPORÂNEO: O ENTRELAÇAMENTO CONSUBSTANCIAL DAS RELAÇÕES DE CLASSE, “RAÇA” E GÊNERO

Palavras-chave: Cuidado. Interseccionalidade. Consubstancialidade. Relações Sociais de Poder.

Resumo

Este artigo tem como objetivo abordar o trabalho do cuidado a partir do entrelaçamento consubstancial de marcadores de diferenças e desigualdades sociais de classe, gênero e “raça”, no contexto do capitalismo contemporâneo. Trata-se de uma pesquisa teórica, com metodologia qualitativa que possibilitou uma revisão de literatura em que obras, artigos e autores/as foram escolhidos de forma intencional pelo critério de abordagem da temática numa perspectiva crítica. Como resultado deste estudo, constatou-se que as relações sociais de poder, classe, “raça” e gênero se entrecruzam, se correproduzem e se ampliam no contexto de globalização, reestruturação produtiva, políticas de ajuste e migratórias, que impactam na reprodução social e, mais especificamente, no trabalho do cuidado, historicamente atribuído às mulheres. Conclui-se que, no Brasil, a consubstancialidade e a coextensividade dessas relações guardam especificidades, devido principalmente à colonização e ao racismo estrutural, mas também possuem relações com essas determinações mais gerais.

Biografia do Autor

Líbia Mafra Benvindo de Miranda, Universidade Federal do Piauí (UFPI)

Doutoranda em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Mestrado em Políticas Públicas (UFPI). Graduação em Serviço Social (UFPI). Assistente Social da UFPI. 

Solange Maria Teixeira, Universidade Federal do Piauí (UFPI)

Pós-Doutorado em Serviço Social pela PUC-SP. Doutorado em Políticas Públicas pela Universidade Federal do Maranhão. Mestrado em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Graduação em Serviço Social pela Universidade Federal do Piauí. Professora associada da Universidade Federal do Piauí. 

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Publicado
2022-02-14
Seção
FLUXO CONTÍNUO - Artigos