O MITO E ORALIDADE EM ÓRFÃOS DO ELDORADO DE MILTON HATOUM
Resumo
No presente artigo discutimos as relações entre as narrativas da novela Órfãos do Eldorado (2008), do escritor Milton Hatoum, em comparação às narrativas indígenas coletadas e publicadas por Betty Mindlin no livro Moqueca de Maridos: mitos eróticos (1997). Desse modo, a novela Órfãos do Eldorado (2008) dispõe de um conjunto de narrativas que foram adaptadas ao contexto da ficção por meio do processo de “remitologização” e transcriação poética, ou seja, parte dessas narrativas compõe o acervo de coleta feita pela referida antropóloga. Esse processo de remitologização, cunhado e estudado pela semiótica russa, especificamente, por Eleazar Meletínski na obra A poética do mito (1987), observa a constante retomada dos mitos fundadores para a construção do romance moderno, técnica estilística utilizada por muitos autores contemporâneos. Tal conceituação reitera a importância desse diálogo proposto entre o texto de matriz oral e o texto literário como possibilidade de relação entre diferentes formas narrativas. Ancorados nesse recorte, analisamos de que maneira a retomada do imaginário indígena foi incorporado à narratividade e escritura literária, o que pode ser observado pela constante movência dos textos orais e sua passagem para o escrito, como acontece, por exemplo, na obra hatouniana em questão.
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