ESTRATÉGIAS DISCURSIVAS E RETÓRICA COLONIAL NA NARRATIVA JORNALÍSTICA DO CONFLITO ENTRE QUILOMBOLAS E CLA

Palavras-chave: Discurso. Estratégias. Mídia Impressa. Quilombolas.

Resumo

Este artigo analisa uma série enunciativa montada a partir de matérias do jornal “O Estado do Maranhão” que tratam do conflito entre os quilombolas de Alcântara (MA) e o Centro de Lançamento de foguetes implantado nesse município nos anos de 1980. O objetivo é analisar as principais estratégias discursivas (FOUCAULT, 2002; 2008; 2009) utilizadas na cobertura desse conflito territorial e como tais mecanismos estão a serviço da retórica da colonialidade (MIGNOLO, 2017), que implica uma narrativa de modernização e hierarquização. Para realizar essa discussão, busca-se suporte nos Estudos Discursivos Foucaultianos, nas teorizações de Mignolo (2017) acerca da colonialidade e em estudos antropológicos (ALMEIDA, 2006; 2008a; 2008b; SOUZA FILHO e PAULA ANDRADE, 2020) sobre Alcântara. Conclui-se que são empregadas quatro principais estratégias para tratar desse conflito, concebendo esses sujeitos como um problema ao desenvolvimento do país, devendo se retirar da área a ser modernizada.

Biografia do Autor

Claudemir Sousa, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho

Doutor em Linguística e Língua Portuguesa, pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Mestre em Linguística, pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Graduado em Letras, pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA).

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Publicado
2021-01-25